O tempo e a economia

O Governo tem anunciado indicadores de bom desempenho da economia portuguesa. Porém, olhando para a conjuntura internacional é inevitável que a dúvida paire. 

Agosto foi este ano atípico em termos meteorológicos. Houve alguns dias mais frios do que o habitual e com alguma instabilidade cuja responsabilidade foi da influência de uma superfície frontal fria. Mas não foi só o tempo que foi influenciado por este evento climatérico. A conjuntura económica internacional deu mostras de, também ela, sofrer desta influência. 

Ao longo de mês, continuaram a surgir notícias do arrefecimento das principais economias europeias. A Alemanha tem vindo a registar taxas de crescimento do PIB muito baixas, antevendo-se que possa entrar em recessão, estando, de acordo com notícias vindas a público, o governo alemão a ponderar adotar medidas capazes de inverter o ciclo. Em França os sinais também não são animadores, registando-se um crescimento económico próximo do zero. Por outro lado, o clima de instabilidade que se vive noutros países também não é abonatório. Disso são exemplo, a imprevisibilidade do desfecho do Brexit, com a economia do Reino Unido a contrair e a situação política vivida em Espanha e em Itália, onde se regista um crescimento baixo. Perante o abrandamento da economia global, fruto da guerra comercial em curso, e antecipando um cenário de eventual recessão, a incerteza nos mercados aumenta, o que leva os investidores a refugiarem-se no ouro que se valorizou desde o início do ano 19%. 

Por cá o alerta foi dado pelo Presidente da República aquando da promulgação do diploma das alterações ao Código do Trabalho. Para justificar esta promulgação, entre outros aspetos, encontram-se ‘os sinais que se esboçam de desaceleração económica internacional e sua virtual repercussão no emprego em Portugal’. Ora o grau de abertura da economia portuguesa ao exterior torna-a mais exposta à conjuntura internacional pelo que o eventual impacto desta desaceleração surgirá mais tarde ou mais cedo, ficando apenas por saber, com que dimensão. Já em Junho, o Banco de Portugal alertou que a redução do excedente da balança corrente e de capital merece particular atenção dado o elevado endividamento externo da economia portuguesa que se mantém como uma das suas grandes vulnerabilidades. O Governo tem anunciado indicadores de bom desempenho da economia portuguesa. 

Porém, olhando para a conjuntura internacional é inevitável que a dúvida paire. Em cenário de recessão ou crise estará o país preparado para a enfrentar? Para responder à questão caberá a cada um avaliar, criteriosamente, os últimos quatro anos de governação e o estado atual da nação.

 

*Diretora da licenciatura em Gestão da Universidade Lusófona do Porto