PS vs. BE. “Um programa de Governo tem de fazer opções, não pode ser uma lista de Natal”

“Contas certas” de cada partido foi tema central do debate

Os líderes do Partido Socialista (PS) e do Bloco de Esquerda (BE) foram os protagonistas do debate das legislativas de 2019 transmitido, esta sexta-feira, na RTP.

Questionada sobre quais as condições para BE e PS conversarem depois das eleições, Catarina Martins defende que a situação é diferente face há quatro anos.

"Nós estamos em condições diferentes das que estávamos há quatro anos. O caminho que fizemos foi muito importante. Seguramente tivemos fracassos como no caso dos professores ou dos precários, erros como o do Novo Banco ou do Banif, mas começámos a fazer um caminho de viragem importante em temas como o salário mínimo e a decida do IRS", começou por dizer a líder do BE.

“Nesta legislatura fomos o partido que aprovou mais projetos-lei, deixámos sementes para o futuro. Hoje mesmo foi publicado o estatuto do cuidador informal. Agora temos de perceber a que crises temos de responder. Temos de responder à crise da habitação, temos um problema gravidade de precariedade (…) Vamos deixar as pessoas votar, estamos aqui para debater as nossas propostas. O BE nunca faltou à estabilidade das pessoas", acrescentou.

Já António Costa foi convidado a responder com clareza sobre o seu compromisso com os eleitores no dia seguinte às eleições, independentemente dos resultados.

"É o que consta do nosso programa eleitoral. Os eleitores dirão o que acontece no dia a seguir. Há ideias que acho claras. Quando me candidatei às primárias do PS disse que devíamos pôr fim ao arco da governação. Nestes quatro anos, conseguimos cumprir todos os compromissos. É claro que é preciso o PS ter força porque é o fiel do equilíbrio desta solução", respondeu, deixando assim no ar a possibilidade da continuidade da geringonça.

"Nada voltará a ser como dantes, o que acontece hoje na vida política portuguesa muda radicalmente o quadro que tínhamos. Independente do resultado político, o diálogo deve ser alargado e necessariamente envolvendo o BE”, admitiu o secretário-geral do PS, acrescentando ainda que tem um visão “muito clara” de que  a “democracia assenta na existência de alternativas”.

“As alternativas serão sempre polarizadas à Direita pelo PSD e à Esquerda pelo PS. Não abri uma porta de diálogo com o BE, PCP e o PEV para agora ir fechá-la. Foram muitos anos que levámos a derrubar um muro, ninguém o vai reconstruir", considerou António Costa.

Em função das respostas de António Costa, a líder do BE afirmou que “quem constrói os resultados é quem vota”, referindo ainda que “o programa do PS é pouco concreto e não tem contas".

"Quem constrói os resultados e as soluções é quem vota. Ouvi Mário Centeno dizer que queria aumentar os trabalhadores da Função Pública segundo a inflação, o PS não apresenta contas no seu programa e no Programa de Estabilidade, o que lá está não chega sequer para aumentar a inflação”, começou por dizer.

“ Todos os partidos vão a eleição para fazer Governo e o BE assumiu nestes quatro anos responsabilidade nas propostas que fez. Por exemplo, o imposto 'Mortágua' vai arrecadar 180 milhões de euros este ano e o aumento extraordinário das pensões são 134 milhões. O BE deu provas dessa capacidade e aprendeu muito com o trabalho que fez", acrescentou.

Confrontado com o facto de ter afirmado que um PS fraco e um BE forte não era bom para a estabilidade do país, António Costa referiu que “um programa de governo tem de fazer opções, não pode ser uma lista de Natal”.

“Nunca nos batemos pelo enfraquecimento de ninguém. A nossa meta é simplesmente ter a força necessária para responder aos problemas do país. Desejamos, como qualquer partido, ter o melhor resultado eleitoral possível. Temos um programa realista com as contas feitas. Um programa de Governo tem de fazer opções, não pode ser uma lista de Natal. Uma coisa é o BE listar coisas que gostava de fazer,  outra é um programa de governo. Há coisas que não consigo perceber, nomeadamente como é que o BE se propõe a contrair dívida para ir nacionalizar um conjunto de empresas”, criticou o líder do PS.

"O BE acha que as contas certas são muito importantes. O Tribunal diz que o BE é o partido de contas certas e estas coisas começam em 'casa'. Depois, é bem verdade que apresentamos contas do que queremos fazer, mas o PS não apresenta contas do que António Costa acabou de dizer. O que choca as pessoas é saber que nos últimos anos foram 25 mil milhões para a banca que não foram pagos na generalidade e isso sim é um escândalo e precisamos de escolher onde fazemos o investimento e o BE escolhe”, respondeu Catarina Martins, que durante o debate criticou ainda a legislação laboral.

António Costa definiu ainda como chave de sucesso da atual legislatura o “aumento de rendimentos”. Enquanto a líder do BE admitiu que o partido “estará sempre disponível para soluções que permitam estabilidade do salário”.

“O país sabe que a direita não contará nunca com o BE. Mas também sabe que o BE não passa cheques em brancos", disse.

Este foi o quarto debate das eleições legislativas de 2019, que vão decorrer no dia 6 de outubro.