António Costa vs André Silva. “O PS está a colocar em causa a sustentabilidade do país e dos recursos naturais”

O ambiente esteve em destaque no debate entre o líder do PS e o porta-voz do PAN 

O primeiro-ministro e líder do PS, António Costa defrontou o líder do PAN, André Silva, esta quarta-feira, num debate emitido pela SIC Notícias, onde o ambiente esteve em destaque. 

"Portugal bom aluno na Europa" foi o primeiro tema discutido entre os dois e em que ambos concordaram. Costa defendeu que Portugal, apesar de fazer parte da UE, não deve ter uma "atitude complexada" de que está a "receber lições da Europa" e deve defender os seus próprios interesses. 

Também André Silva considera que além do cumprimento dos tratados e regras, "não temos que ir mais além". Depois de elogiar o seu partido, André Silva criticou o PS no que toca ao défice apresentado em Bruxelas, onde o Governo estimou que o défice ficasse em 0,2%, no ano de 2019. Segundo o líder do PAN, este tem uma visão mais "conservadora" pois existem dúvidas em relação ao abrandamento económico e preferem apontar para um défice de 0,5%, para ter "uma margem de mil milhões de euros que permitem acomodar alguns benefícios".

Costa defendeu-se e diz que acima do expectável, o mais importante é o facto de o PS ter alcançado "uma política económica equilibrada que permitiu repor rendimentos, aumentar o investimento público, reduzir os impostos sobre o trabalho, ao mesmo tempo que reduzimos o défice e a dívida" e sublinha os saldos primários positivos que o país tem tido. "Se tivermos uma trajetória sustentada de redução do défice, sem ter de andar a cortar salários, isso dá-nos uma margem para podermos ter uma situação mais equilibrada que pode um dia acontecer, creio que não está no cenário de ninguém que possa acontecer de imediato", declarou. 

Clara de Sousa abordou a afirmação de André Silva, que mencionou que o maior erro do PS foi a "falta de visão que hipotecou as gerações futuras". Apesar de considerar que o PAN ajudou o PS a evoluir no que toca às questões ambientes, o deputado acusa o Governo de colocar "a primazia de economia do crescimento económico relativamente à conservação dos habitats e dos ecossistemas".

André Silva criticou mais uma vez o PS por estar "a transformar o Alentejo num olival intenso com um gasto de água excessivo". Segundo o deputado do PAN, o que difere o PS do seu partido é "o modelo económico" defendido pelo PS, "do faz primeiro, remedeia depois". António Costa defendeu-se e acusou o deputado de estar a exagerar visto "o olival intensivo" só ocupar "1,5% do conjunto de área do Alentejo" – são 3 milhões de hectares em que 170 mil estão cultivos com este tipo de olival. "Mas esse 1,5% está a consumir a água toda do Alqueva", rematou André Silva. 

Para Costa, é "preciso ter uma visão equilibrada dos diferentes objetivos". "Não podemos ter um regime económico depredador, mas não podemos deixar de ter um regime económico que gere riqueza e autossuficiência para o país", declarou. Portugal "não se pode dar ao luxo" de não aproveitar os seus recursos naturais, dando o exemplo do aumento da produção de azeite. "Há uns anos, produzíamos 40% do azeite que consumimos, hoje felizmente já produzimos 150%."

Apesar das afirmações do socialista, André Silva manteve a sua opinião até ao fim e acusou o partido de estar "a colocar em causa a sustentabilidade do país e dos recursos naturais". Sublinhou ainda que o Governo de Costa atrasou a "designação de 61 zonas de conservação", nomeadamente na área do futuro aeroporto do Montijo, nas estufas da Costa Vicentina e na zona do olival intensivo, com o intuito de "atrasar propositadamente as zonas de proteção especial para fazer desenvolvimento económico que pode ser predador".

Quando questionado se é possível antecipar em 20 anos a meta da neutralidade carbónica em Portugal, estipulada para 2050, Costa afirma não ser realista a ideia do PAN e elogiou o país e o PS, afirmando que Portugal foi o primeiro país em 2016 a assumir o objetivo da neutralidade carbónica em 2050,"um compromisso que o conjunto da UE não foi capaz de assumir" e  o primeiro país na UE a aprovar o roteiro para a neutralidade carbónica. 

"As metas são simples: duplicar até lá a produção de energia com base em energias renováveis, reduzir as emissões de CO2, é conseguirmos ter 80% da eletricidade que consumimos ter como fonte as renováveis. Metas muito ambiciosas. Não vamos mais rápido porque temos de saber compatibilizar aquilo que tem de ser a ambição com a transição económica" declarou o líder do PS.

André Silva chamou Costa de "pouco ambicioso" em diversas áreas como no roteiro da descarbonização e na área da agricultura, acusando-o de ter deixado vários planos para trás e disse que um dos pontos chaves para alcançar a neutralidade carbónica é fechar as centrais a carvão até 2023, algo que António Costa defende até 2030. 

"Até 2021, conseguimos fechar os geradores do Pego e de metade do de Sines e depois até final de 2023 os dois geradores de Sines. Todas as centrais de gás natural no país conseguem suprir a produção de energia produzida nas centrais de carvão, com um terço das emissões (…) . É perfeitamente possível do ponto de vista económico e do ponto de vista da resiliência da rede (…) terminar com as centrais de carvão em 2023", disse. 

No que toca à proclamação da  emergência climática, que o PS votou contra, Costa diz que não é através de uma "proclamatória" que se resolve a situação. "Desde o início da legislatura que fizemos uma mudança muito importante: colocar no Ministério do Ambiente os transportes urbanos. São a chave para esta transição energética". 

Já o líder do PAN defende que é importante declarar o estado de emergência climática. "Tem que ver com o compromisso que assumimos perante o país. Há partidos, como é o caso do PS e do PAN, que têm como primeiro capítulo do programa matéria de ambiente e de combate às alterações climáticas. Mas essas matérias só se abordam quando está presente o PAN. Não tem sido uma prioridade para os outros partidos este debate".

Outro dos assuntos em que os líderes divergiram foi no turismo. Enquanto o PAN defende que se apure a carga turística do país e que se imponham quotas, Costa assegura que o que tem que se fazer com o turismo é diversificá-lo e torná-lo um turismo nacional e não local. 

Como questão final, Clara de Sousa decidiu perguntar a António Costa, como este reagiria caso um ministro convidasse o filho do chefe de Governo, Pedro, para um gabinete ministerial.

Apesar de surpreendido, o primeiro-ministro mostrou prontidão na resposta. "Nenhum membro do governo convidaria o meu filho e o meu filho não aceitaria trabalhar num gabinete do governo presidido por mim". Depois da jornalista continuar a questionar o líder do PS sobre os prejuízos e benefícios da situação, Costa rematou: "Não é por causa do meu irmão que foi diretor desta casa [SIC], que esta casa alguma vez deixou de ser independente da forma como lida relativamente a mim ou ao governo", concluiu.