Alerta: famílias unidas jamais serão vencidas

Não é preciso dominar a arte de ler uma bola de cristal para dizer que cheira a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas.

Quem andou metido nestas andanças, como o autor desta despretensiosa reflexão, que teve o privilégio de ter sido cabeça de lista a umas eleições para a Assembleia da República, sente que há uma conjugação de fatores a fazer com que o vento sopre, forte, a favor do Partido Socialista!
A começar pela comunicação social!
No PSD tem se visto que, no topo, ninguém parece levar a sério esta evidência, pelo que a vara de uma oposição determinada, coerente e profunda continua torta.
É claro que na sua direção politica não há responsável isento de culpas pela existência de tanta falta de ação e pela ausência de consequentes esforços corretivos ao que se está a passar, onde se impunha saber destrinçar o essencial do supérfluo.
Não há tempo para grandes alterações, agora, mas sobra tempo para enveredar pela via pragmática e realista de dar expressão e significado ao que já foi anunciado como fazendo parte do seu programa, através de uma hábil comunicação com o eleitorado, a favor das causas que o PSD quer levar a cabo para melhorar a vida dos portugueses e que, também, dê à estampa as clamorosas distorções e injustiças relativas, que este Governo fez acontecer nos serviços públicos, prejudicando os portugueses e suas famílias.
Falo da saúde, educação e transportes, dos incêndio, do nepotismo, por ex, onde as campainhas de alarme andam a soar há algum tempo por todos os lados. Acentuo, portanto, a convicção de que o PS até se tem se posto a jeito para poder ser surpreendido, se outra fosse, até agora, a forma de o PSD fazer oposição.
Sou dos que apoiei Rui Rio (RR) desde o primeiro apito do ‘jogo’, em Aveiro. E fi-lo seduzido por aparentes virtudes que me estimulavam e agradavam no pantanoso jogo político, que nos rodeia. Se calhar essas virtudes existem, só que não tem havido habilidade para as exibir e rentabilizar, parecendo, até, que RR é mais um do que já temos e criticamos.

Não será por acaso, que dia após dia, dentro do próprio Partido, as críticas crescem, ao lado de múltiplas ameaças, algumas concretizadas, de demissões de dirigentes locais e na própria direção nacional ao nível de um vice-presidente.
É de assinalar, que não é por eles que fico sem sono. Sei bem do que a casa gasta e do interesseiro ‘umbigo’ que muitos deles exibem.
O que me preocupa é o que pensa o ‘bónus pater família’ e o desencanto que muitos indefetíveis do PSD não se escondem de exibir.
Falo, por isso, do país real e do receio que tenho de ver a balança democrática a desequilibrar- se, abanando os equilíbrios estruturais da nossa política.
E no PSD andam os nossos principais dirigentes esquecidos de tocar a rebate e despertar as consciências sociais-democratas para uma reflexão séria acerca do que se está a passar.
Há gente demais a assobiar para o lado, desde as potenciais grandes figuras, até gente do aparelho que se sente incomodada com os compagnons de route que Rui Rio destinou em tantos distritos, neste processo eleitoral, dando a todos a perceção de que as listas, os nomes de todas as listas, são da sua responsabilidade, para o bem e para o mal. Só e só.
E nisto de fazer equipas Rui Rio não tem sido propriamente um exemplo, já que, nas suas redondezas, sobram os equívocos e os casos mal explicados, alguns deles que levaram, até, a afastamentos face às polémicas que desencadearam.
Em Coimbra, a lista que vai a votos, com a desculpa devida aos méritos de todos os que nela constam, e serão muitos, cria-me reticências, obrigando-me por algum pudor político e amor à camisola a ficar por aqui.
Enfim, os erros tem sido muitos, os tiros nos pés também, levando alguns devotos sociais democratas a pensar alto que, seja qual for o resultado das eleições, onde desejo que o PSD as ganhe, se deve ir para eleições internas, assente na ideia de que os resultados destas eleições podem e devem influenciar as consequentes dinâmicas internas no PSD.
Pensar isto é dizer, que RR pode estar a prazo curto, o que pode, também, significar que podemos ter o País sob o poder ‘absoluto’ do PS.
Resta, portanto, pouco tempo a RR para golpes de asa capazes de abanar a consciência coletiva do país e mobilizar o Partido à volta de ideias, boas e realizáveis ideias, que transmitam ao eleitorado a convicção de que o PSD pode ganhar as próximas eleições, ou disputá-las, taco a taco com o PS, desdizendo os resultados das últimas sondagens.
É que eu sou estruturalmente contra poderes absolutos. Os pesos e contrapesos são fundamentais nas democracias e todos nós antecipamos o que será o PS (ou outro qualquer partido) com maioria absoluta. As alternativas são essenciais em democracia e o PSD sempre soube ter programas alternativos.
Daí que os exemplos recentes preocupem, e há que pensar que, nestes contextos, podem secar determinadas formas de fazer política, que são fundamentais para afastar o perigo dos extremos e do populismo.
As sondagens valem o que valem, mas indiciam a necessidade de o PSD ultrapassar este mau bocado, mudando rapidamente o que está mal!
No fundo está em jogo a vitalidade do maior partido da democracia portuguesa, que tem que dar um safanão e não se deixar empurrar para uma relativa pequenez eleitoral.
É que no PS todos remam para o mesmo lado, sob o mote: ’famílias’ todas unidas jamais serão vencidas’!