Alga que fez soar alarmes em Espanha está a poucos quilómetros de Portugal

Pescadores espanhóis com prejuízos de milhares de euros devido ao crescimento descontrolado da alga asiática. As redes usadas para pescar podem ser um dos motivos da proliferação rápida desta espécie.

Entrar no mar para pescar e voltar sem nada, apenas com as redes cobertas de algas, já faz parte da rotina dos pescadores de Cádis, Espanha. A costa espanhola situada junto ao estreito de Gibraltar vive dias negros com o aparecimento em massa da alga asiática – uma espécie invasora que chegou ao país vizinho em 2015. 

Além de prejudicar a biodiversidade marinha, a alga asiática já provocou danos na carteira dos pescadores e de todos os que vivem do mar. Aliás, a Federação de Pescadores de Cádis descreveu ao El País a invasão da alga como “uma catástrofe ambiental”. Do outro lado do estreito de Gibraltar, onde os danos são mais significativos, os pescadores dizem que nunca viram nada semelhante e calculam que se tenham perdido quase 100% das capturas. 

As praias espanholas estão cobertas de castanho, graças à Rugulopterix okamurae – nome cientifico para alga asiática, e o Governo espanhol já está a estudar a possibilidade de colocar esta alga na lista das espécies invasoras. A alga asiática chegou a Ceuta e foram precisos apenas quatro anos para tomar conta do sul da costa espanhola. Castanha e viscosa, a alga asiática teve origem na China, Japão, Filipinas e Coreia e, fora do oceano Pacífico, só foi encontrada numa zona da costa francesa em 2007 – a primeira vez que apareceu na Europa. 

A alga asiática já fez soar os alarmes da comunidade científica espanhola, sobretudo pelo seu crescimento “meteórico e completamente inédito”. José Carlos García, investigador do Laboratório de Biologia Marinha da Universidade de Sevilha, afirmou mesmo que nunca os investigadores tinham encontrado um precedente de uma invasão tão explosiva. Por exemplo, na praia de Estepona foram retiradas 2800 toneladas de algas em seis semanas.

A propagação da Rugulopterix okamurae deve-se sobretudo ao facto de a espécie não ter predadores, o que faz com que se multiplique sem limites. Depois, a alga fixa-se a solos rochosos até 25 metros de profundidade – a caranguejos, pedras ou mesmo a outras algas. Sem saberem, os pescadores também ajudam na propagação da alga: sempre que tiram as redes e as devolvem ao mar estão a espalhar as algas por outras superfícies marítimas. 

E é exatamente o facto de os pescadores transportarem a alga asiática nas suas redes que pode trazê-la até Portugal. Mas, atenção, é apenas uma hipótese. Contactado pelo i, o Laboratório de Fitoplâncton do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) disse que esta espécie de alga não foi detetada na costa portuguesa, apesar de estar a poucos quilómetros de Portugal. No entanto, isso não significa que não possa chegar às praias do Algarve, por exemplo, já que “um barco que venha para Portugal pode trazer a alga e espalhá-la”, adiantou o IPMA.

 

Algas invasoras em Portugal 

A espécie encontrada em Espanha é diferente das espécies invasoras que vivem na costa portuguesa. Este verão, as praias do Algarve pintaram-se de verde – um fenómeno normal, até porque as algas verdes aparecem todos os anos, mas desta vez surgiram em grande quantidade. Água mais fria, excesso de fertilizantes que trazem mais nutrientes e maior agitação marítima podem ser as causas do aparecimento destas algas. 

O aparecimento de algas é um fenómeno vulgar; no entanto, é preciso perceber de que tipo de algas se fala: nativas ou exóticas. João Branco, da Quercus, explicou ao i que as algas asiáticas trazem problemas para a biodiversidade, sobretudo porque competem com as algas nativas. E basta fazer o paralelismo com o eucalipto: é uma espécie australiana e, quando se espalha, há uma perda de biodiversidade porque as restantes plantas que estão à volta vão desaparecendo. “E há milhões de organismos, como insetos, que dependem de outras espécies. Por exemplo, há lagartas que só comem folhas de medronheiros ou pinheiro”, disse João Branco. 

“Quando há uma espécie exótica, os microrganismos não estão adaptados a comer essa espécie”, explicou a Quercus, sublinhando mais uma vez a questão da perda da biodiversidade.

 

Fenómenos de poluição

Afinal, qual é o motivo da multiplicação das algas? A poluição pode ser uma das respostas. 

As algas alimentam-se de três nutrientes: azoto, fósforo e potássio. Nos esgotos há exatamente os mesmos nutrientes. Ou seja, quando há descargas poluentes nas águas, sobretudo de esgotos de origem doméstica, as algas têm, logo à partida, todos os nutrientes para se multiplicarem. “Muitas vezes, os fenómenos de crescimento descontrolado de algas – não só no mar, mas também nos rios – são provocados pela poluição das águas”, disse João Branco.

Depois de se multiplicar, a alga, “mais cedo ou mais tarde, acaba por morrer e começa a apodrecer”. Quando a quantidade de algas já em processo de decomposição é elevada, “toda a massa em putrefação provoca a contaminação da água através de microrganismos e da libertação de toxinas resultantes desse processo”, explicou a Quercus. No oceano, pela sua dimensão, há normalmente capacidade pata dispersar a matéria orgânica, mas se for, por exemplo, num rio onde exista uma barragem, verifica-se o fenómeno da eutrofização, que não é mais do que o excesso de matéria orgânica que provoca a perda de oxigénio na água. 

Nos rios e, especialmente, nas barragens, o fenómeno da poluição aliado ao aparecimento de algas é comum. Por exemplo, no ano passado, na barragem do Torrão, em Marco de Canaveses, verificou-se um fenómeno de algas verdes no rio Tâmega. As águas paradas perto da barragem e o excesso de nutrientes na água provocado pelas descargas poluentes foram os fatores que originaram o aparecimento daquelas algas.