Cofina, Abanca e Mário ferreira compram TVI

Negócio está fechado mas só vai ser formalmente concluído na próxima semana, tem o valor global de 255 milhões de euros e é financiado pelos bancos Santander e Société Générale. 

Ao fim de 30 dias consecutivos de negociações entre a Cofina e a Prisa há um fim à vista. O contrato deverá ser formalmente celebrado na próxima semana e, juntamente com Paulo Fernandes, entra o banco espanhol Abanca e o empresário Mário Ferreira. 

Ao que o SOL apurou, o dono da Douro Azul ficará com 10% da operação. 

Contactado pelo SOL ontem à tarde, Mário Ferreira limitou-se a dizer que «não confirma» esta informação, mas fonte oficial da dona do Correio da Manhã afiançou, a seguir, que «as negociações continuam».
O SOL apurou que a operação vai ser financiada por dois bancos: o Santander Portugal e Société Générale.

Banif atrapalhou
Antes de chegarem a bom porto, as duas partes tiveram de ultrapassar alguns entraves que, ao longo dos últimos 30 dias, obrigaram ao arrastamento do processo. A começar pelo preço. A oferta da Cofina (que ronda os 255 milhões de euros) está muito abaixo dos valores inicialmente pretendidos pela Prisa, mas a verdade é que as fracas audiências do canal televisivo têm vindo a desvalorizar o principal ativo da Media Capital. A SIC continua a ganhar terreno face aos canais concorrentes e há dias em que a TVI está muito próxima da RTP1.  Aliás, esta queda obrigou a mudanças na direção de programas com a entrada de Felipa Garnel como diretora.

Outro dos entraves dizia respeito ao ‘caso Banif’. Ao que o SOL apurou, Paulo Fernandes não estava disponível para pagar eventuais indemnizações do canal de televisão se este for condenado por crime de ofensa à reputação económica da instituição financeira. Na base deste processo está uma queixa do Banif (em liquidação), na sequência da notícia sobre o alegado ‘fecho’ do banco, emitida pelo canal TVI24, no dia 13 de dezembro de 2015, com o banco a considerar que a notícia esteve na «origem de uma enorme perda de liquidez ao longo dos dias» imediatamente a seguir à transmissão e, posteriormente, «da resolução do banco dos danos por ele provocados».

De acordo com a acusação do Ministério Público, o arguido «Sérgio Figueiredo [diretor de informação do canal de televisão] previu e e quis revelar e divulgar/tornar público tal notícia num meio de comunicação, não obstante saber que o seu teor poderia ser falso e que a mesma seria ofensiva da imagem e competência económica do Banif».

Venda com luz verde
Aliás, o caso já levou a ALBOA, Associação de Lesados do Banif, a revelar esta semana que «os eventuais futuros donos da TVI saberão honrar os compromissos que venha a adquirir com a compra daquela estação de televisão».
Também do lado do Governo e das entidades reguladoras não há oposição ao negócio.  Tal como o SOL avançou na semana passada, o CEO da Cofina esteve reunido com o primeiro-ministro, com a Autoridade da Concorrência (AdC) e com Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para garantir que nenhuma das entidades se oporia à operação, pois só assim avançaria para negociações com a Prisa. Apenas afastado destes encontros esteve Marcelo Rebelo de Sousa, mas o Presidente foi informado do negócio por António Costa. 

Sem riscos
Ao que o SOL apurou, Paulo Fernandes não queria correr o risco de enfrentar o mesmo desfecho que teve a Altice cerca de dois anos antes. A operação avaliada em cerca de 440 milhões de euros acabou por esbarrar na demora das autorizações necessárias da Concorrência e de outras entidades reguladoras.

O SOL sabe que a operação de compra da TVI poderá passar por um prévio aumento de capital do grupo detentor do Correio da Manhã e da CMTV, que será acompanhado pelos atuais acionistas de referência da Cofina, mas também permitirá a entrada de novos players. Sendo que uma das soluções poderá passar pela venda de ações no mercado de capitais. 

Ao mercado, a Cofina, no momento em que oficializou as negociações, garantiu que estava previsto «adquirir à Prisa a totalidade do capital social na Vertix, sociedade comercial através do qual a Prisa detém ações representativas de 94,69% do capital social e dos direitos de voto da Media Capital, ao invés de proceder diretamente à aquisição da participação na Media Capital». E, caso as negociações terminassem com a celebração de um contrato de compra e venda, a dona do Correio da Manhã iria proceder à divulgação de um anúncio preliminar de oferta pública de aquisição (OPA) sobre as ações remanescentes da Media Capital.

Concorrentes atentos

Apesar de ainda não se saber os contornos do negócio, o presidente da executivo da Impresa chegou a garantir que iria estar atento à operação. Ainda assim, Francisco Pedro Balsemão afirmou que precisava de conhecer mais detalhes para se pronunciar em termos concorrenciais e regulatórios. 

«Estamos atentos a quaisquer alterações neste setor da comunicação social e esta é uma operação que foi anunciada recentemente, mas ainda não há nada de concreto e enquanto não houver não vamos poder comentar. Precisamos saber mais detalhes, de ter mais informação seja em que sentido for», disse o CEO da Impresa à Lusa.

A verdade é que a Impresa foi um dos principais opositores à venda da Media Capital ao grupo Altice. E, a concretizar-se a venda da TVI à Cofina, o negócio far-se-á, por menos quase 30% dos valores que envolviam a compra da estação pela operadora há dois anos.

A venda da Media Capital à Altice registou desde o início vários entraves, tanto para as empresas concorrentes como para os próprios reguladores estava condenada à nascença, mas que seria a tábua de salvação para o grupo espanhol que precisava, na altura, de financiamento rápido.

Recorde-se que a Media Capital fechou o primeiro semestre com lucros de 5,9 milhões de euros, uma quebra de 44% face ao período homólogo.