Para que serve o telemóvel na escola?

Alguns pais acabam  por oferecer telemóveis para que as crianças não fiquem sozinhas no recreio enquanto os outros se fecham no seu mundo virtual.

Felizmente há cada vez mais escolas a proibirem o uso do telemóvel. Mas ainda são uma minoria.

Em muitas escolas a partir do 2º ciclo, os alunos em vez de brincarem no recreio, de conversarem ou jogarem à bola, estão cada um com o seu telemóvel, individualmente ou em grupo, com o olhar fixo e atento àquele pequeno ecrã, alheados ao que os rodeia. Só não vê quem não quer este preocupante e pobre cenário. Numa fase tão especial da vida, em que têm toda a energia para gastar a correr, a saltar, a brincar, em que poderiam ter tanta coisa para contar, ouvir e partilhar com os amigos, em que o tempo livre podia fazer dar asas à imaginação para brincadeiras e criações novas, em que se podiam estar a descobrir, conhecendo-se com os outros, estão imóveis a olhar para uns centímetros de ecrã.  
Isto sem falar da relação muitas vezes direta do telemóvel com o bullying. O filmar ou fotografar situações embaraçosas ou os atos de violência que se criam com o objetivo único de serem filmados e partilhados, são uma realidade hedionda.
Posto isto, para que serve o telemóvel na escola, se as aulas servem para aprender, o recreio para conviver e este objeto inviabiliza ambas?

À partida penso que é sempre mais adequado sermos responsáveis pelos nossos atos e encaminhados nesse sentido do que recorrer a proibições, mas neste caso não consigo ver outra forma de acabar com esta epidemia.

Mesmo pais que não veem com bons olhos os filhos terem um telemóvel, acabam por os oferecer para que estes não fiquem sozinhos no recreio enquanto os outros se fecham no seu mundo virtual. Para lá do telefone torna-se tudo aborrecido, tudo chato. Sem se aperceberem as relações tornam-se mais pobres, os jovens mais desinteressantes e a vida mais estéril. Quando daqui a uns anos olharem para trás – se ninguém travar esta tendência – é provável que encontrem um deserto relacional, ou de relações pouco estruturadas, poucas vivências, pouca cor, pouca criatividade e novidade, poucas boas recordações, ou seja, uma passado medíocre.

Temos de olhar com cuidado e urgência para o que está a acontecer e perceber o que impede as escolas de proibirem taxativamente o telemóvel durante o período escolar. Não podemos deixar que este mal avance mais e que as máquinas nos controlem e nos roubem o que temos de tão precioso: a juventude, as relações com os outros, a liberdade, o tempo morto, a criatividade, o devaneio. Para que a tal geração rasca, ou à rasca, não crie uma geração de autómatos.  

Não é natural e não pode ser bom seres humanos preferirem relacionar-se com máquinas em vez de seres da mesma espécie. Elas estão a avançar e nós a recuar, a ceder. Já não somos nós que as controlamos, são elas que nos controlam a nós. E não estou a exagerar. Vemos isso não só nos jovens, mas quando adultos falam uns com os outros sem levantarem os olhos do telefone, quando almoçam frente a frente de telefone na mão sem proferir palavra, quando na rua não veem por onde andam enquanto tiram selfies ou enviam mensagens, por haver cada vez mais acidentes de carro devido a telemóveis. 

Por favor limitem os telemóveis nas escolas. E já agora em casa, no carro e no trabalho também, ou sempre que haja alguém por perto que queira comunicar à moda antiga.