Mais mortes nas linhas

Dados fornecidos pelas Infraestruturas de Portugal mostram que 25 pessoas já foram colhidas por comboios em 2019. Número supera já 2018 e 2015.

Desde o início do ano 25 pessoas foram colhidas por comboios. Destas, 15 não resistiram aos ferimentos – o último caso aconteceu na segunda-feira, quando uma criança de dois anos foi atingida por um comboio na Guarda.

Os números dos primeiros nove meses do ano superam já os registados durante todo o ano de 2018 ou os de 2015. Os dados disponibilizados ao SOL pela REFER (ver tabela em baixo) excluem casos de suicídio.

Segundo a Rede Ferroviária Nacional – REFER, entre o dia um de janeiro e 17 de setembro, registaram-se em Portugal 25 casos de pessoas colhidas por comboios que se encontravam num local não autorizado ou em que estando em atravessamento em estação, não cumpriram as regras de atravessamento em segurança. Dessas 25 pessoas colhidas resultaram 15 vítimas mortais e 10 feridos graves.

Para além destas, também 10 peões foram colhidos em passagens de nível devido a terem desrespeitado as regras de atravessamento em segurança. Desses, sete foram vítimas mortais e três ficaram feridos com gravidade.

No ano passado registaram-se, no total, 20 acidentes ferroviários com pessoas que se encontravam num local onde não tinham autorização ou que não cumpriram as regras de atravessamento em segurança – como por exemplo atravessamentos em estação ferroviária. Dessas 20, 14 acabaram por morrer e seis ficaram feridas com gravidade. Quanto a acidentes em passagem de nível por desrespeito das regras de atravessamento houve registo de três pessoas colhidas, todas elas vítimas mortais.

Já em comparação, por exemplo, com o ano de 2015 verificou-se, igualmente, um grande aumento do número de pessoas colhidas por comboios.

Nesse ano, verificaram-se 13 acidentes ferroviários, dos quais resultaram 13 vítimas mortais e ainda três feridos graves.

Este maior número de vítimas mortais e feridos graves em relação ao número de acidentes tem a ver com a existência de mais casos com mais do que uma vítima – como o que se deu a 25 de fevereiro de 2015, quando dois agentes da PSP, de 23 e 26 anos, foram colhidos mortalmente por um comboio junto do apeadeiro de Sacavém-Loures, quando corriam pela linha atrás de dois suspeitos de um assalto. Os assaltantes, já com antecedentes criminais, ficaram feridos.

O caso aconteceu pelas 11h30 com um comboio Intercidades e causou grande choque devido à morte destes dois polícias patrulheiros da esquadra de São João da Talha. A, na altura presidente da Assembleia da República (AR), Assunção Esteves, referiu que os agentes, João Carlos Lopes Rainho e Ricardo Filipe Lopes Santos, «morreram como heróis por todos nós» e que haviam deixado «uma memória de abnegação e um exemplo de entrega sem limite».

Em 2015, por exemplo, analisado apenas o número de pessoas colhidas que se encontravam em passagem de nível por desrespeito das regras de atravessamento  constata-se que foi igual a 2018 – três vítimas mortais.

Fonte oficial da REFER explicou ao SOL_que não existe um padrão e que a incidência destes acidentes não está relacionada com qualquer período do ano – a ocorrência é, aliás, bastante oscilante nos últimos anos.

 

Criança colhida na Guarda

O último caso registado de pessoas colhidas por comboios este ano aconteceu na segunda-feira, quando uma criança de dois anos foi colhida por um comboio na Guarda.

O acidente ocorreu por volta das 14h10 na zona da Rasa, na Linha da Beira Alta, Guarda. O menino foi ainda submetido a manobras de reanimação no local após ter sido colhido pelo comboio que seguia da Guarda em direção à Pampilhosa, no concelho da Mealhada, mas sem sucesso.

Um familiar do menino tinha um pouco antes dado o alerta para o desaparecimento do mesmo, que acabaria por ser colhido por este comboio.

A Linha da Beira Alta, na direção de Vila Franca das Naves (Trancoso), foi cortada aquando do sucedido e assim permaneceu durante algumas horas. No local estiveram 14 operacionais dos Bombeiros Voluntários da Guarda, da PSP e da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), apoiados por seis viaturas.

São consideradas vítimas mortais, as pessoas que morram até 30 dias após terem sido colhidas por comboios – contabilização idêntica à dos acidentes rodoviários.