Refúgio – Baía de Câmara de Lobos (Madeira)

Todas as pessoas necessitam de momentos de serenidade, de calma e até de alguma solidão para assentar ideias, recarregar baterias e tomar decisões de fundo. É certo que num mundo em constante mudança, que vive apenas o imediato, cada vez é mais difícil parar para pensar e descansar verdadeiramente.

Existem alguns locais no mundo que ficaram imortalizados no momento em que personalidades de renome mundial procuraram neles refúgio, fugindo dos holofotes mediáticos que os impediam de descansar e de meditar.

Há cerca de 70 anos, a Baía de Câmara de Lobos, na ilha da Madeira, ficou imortalizada pelo facto de Winston Churchill a ter pintado num momento de descanso e de meditação. Churchill, o célebre primeiro-ministro britânico que, poucos anos após o fim da 2.ª Guerra Mundial, procurou refúgio por uns dias na belíssima ilha da Madeira, decidiu montar o seu cavalete de pintura num miradouro, que atualmente tem o seu nome, para pintar a magnífica Baía de Câmara de Lobos e o seu respetivo ilhéu.

Não sabemos se esta famosa personalidade mundial tinha conhecimento do que estava a retratar, mas curiosamente, ele estava a pintar um local que a natureza escolheu para ser um verdadeiro local de refúgio. Quando os navegadores portugueses João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira desembarcaram nesta baía pela primeira vez, observaram que existia uma rocha delgada que entrava pelo mar adentro e que entre esta rocha e outra ficava um braço de mar, onde a natureza fez uma grande lapa, ao jeito de câmara de pedra e rocha viva. Tendo deparado com tantos lobos marinhos, ficaram espantados, encontrando-se deste modo a justificação para o surgimento do nome deste local.

O lobo marinho é conhecido em Portugal por este nome, no entanto, a nível internacional o nome científico dado a esta espécie é: foca monge. Ambos os nomes estão relacionados com a necessidade de refúgio e de vida, por vezes, solitária, típica dos monges ou típica de alguns lobos solitários. Infelizmente, a ação humana, muitas vezes, esquece-se de respeitar os ritmos da natureza e das necessidades de recato de seres humanos e de animais, como é o caso do lobo marinho. O resultado final é que seres humanos andam cada vez mais stressados e os animais entram em vias de extinção.

Hoje em dia, os lobos marinhos já não frequentam muito a sua ‘câmara’, não fora a proximidade das Ilhas Desertas e a ação eficaz das equipas do seu parque natural e provavelmente já não existiriam focas monge em Portugal.

As Ilhas Desertas são, hoje em dia, a ‘Câmara de Lobos’ das cerca de quarenta focas monge de Portugal, num total de cerca de trezentas a nível mundial. Lentamente, a colónia portuguesa destes animais tem aumentado, sendo fundamental que a comunidade marítima portuguesa continue a garantir que existem locais de refúgio suficientes para que os lobos marinhos e outros seres vivos consigam sobreviver.

Miguel Marques, sócio da PwC