Greve climática não foi só para os mais novos

De norte a sul do país, foram milhares os manifestantes que saíram à rua em defesa do planeta. Uma greve sem idades, em que professores tiveram faltas justificadas, mas alunos não. Em Lisboa, milhares de pessoas caminharam do Cais do Sodré até ao Rossio.

Pilar tem 6 anos, não come carne, explica aos amigos da escola que não podem usar palhinhas de plástico e quer «mudar o mundo para ninguém atirar plástico ao chão», disse ao SOL enquanto participava na greve climática, ao lado da mãe.
Cartazes, caras pintadas, palavras de ordem e representantes de todas as idades. A terceira greve climática estendeu-se ao país inteiro, porque, afinal, «os jovens também querem ser avós», como se lia nos cartazes que ontem desfilaram pelas mãos dos alunos portugueses. 

As razões da luta são muitas. Oplaneta está a apertar o cinto, os recursos são cada vez mais escassos e, de novos a velhos, foram muitos os que não quiseram deixar de marcar presença no Cais do Sodré, em Lisboa, onde durante a tarde de ontem se juntaram centenas de pessoas. Protestar é preciso, mas é também preciso fazer alguma coisa para mudar o estado de degradação do ambiente. A mãe de Pilar explica que os mais novos já têm noção de que é preciso reciclar e colocar de lado o plástico, por exemplo. «Quando chegamos ao restaurante dizemos logo que não queremos palhinha, não deitamos lixo na praia, usamos muito pouco o carro, o irmão da Pilar, que é o Gonçalo, vai a pé para a escola, que fica na outra colina».

A sensibilidade à temática ambiental não tem limite de idade. Entre o Cais do Sodré e a praça do Rossio estava também João, de 71 anos, que na década de 1980 começou a trabalhar na área das energias renováveis. Não reduziu o consumo de carne, e palhinhas de plástico ou cotonetes ainda não foram excluídos da sua rotina, mas acompanhou a filha e a neta de três anos à manifestação. «É por elas que venho aqui», disse. Isabel, a filha do homem de 71 anos, faltou ao trabalho para estar ali e assumiu que anda sempre de transportes públicos ou de bicicleta. 

Para muitos, a luta é determinante para mudar o rumo do planeta, mas para outros não justifica uma falta às aulas. Ao contrário dos professores – o pré-aviso de greve entregue pelos sindicatos justifica a ausência de todos os docentes que quiseram juntar-se à manifestação –, os mais novos não tiveram as suas faltas justificadas. Por essa razão, muitos pais optaram por não justificar as faltas aos filhos, obrigando-os a estar presentes nas salas de aula. «Tens 14 anos, não tens idade para ir a manifestações, portanto vais para as aulas, porque eu não vou justificar falta nenhuma», dizia ontem um pai que falava com o filho ao telemóvel.  

De norte a sul do país, foram milhares os manifestantes que invadiram as ruas. Portugal foi um dos cerca de 170 países que organizaram os mais de 6 mil eventos de protesto contra as alterações climáticas. Por cá, cerca de 30 localidades aderiram à greve climática. Neutralidade carbónica até 2050, encerramento das centrais termoelétricas de Sines e do Pego e cancelamento de projetos como o aeroporto do Montijo foram algumas das reivindicações que se ouviram ontem nas ruas portuguesas.