Hong Kong. Batalha campal nas vésperas do dia nacional da China

A violência foi uma constante neste domingo. Polícia voltou a lançar gás lacrimogéneo e canhões de água contra ativistas.

Os ativistas pró-democracia de Hong Kong não desistem e já vão no 17.º fim de semana de protestos consecutivo. Este domingo, dois dias antes das comemorações do 70.º aniversário da liderança comunista do país, a violência brotou rapidamente na megacidade num protesto não autorizado com o objetivo de ofuscar as cerimónias em Pequim, que terminou com a detenção de mais de 100 pessoas. 

Os protestos estavam marcados para as 15h (8h em Portugal continental) no distrito comercial Baía Causeway, mas a polícia de choque já vigiava os ativistas horas antes e chegou a deter sete manifestantes vestidos de preto. “É crime vestir preto?”, perguntava Leung, um dos manifestantes detidos, depois de ser libertado, uma hora mais tarde, citado pelo South China Morning Post

Antes das 15h, a polícia levantou uma bandeira negra: ou os manifestantes dispersavam ou seria lançado gás lacrimogéneo sobre eles, que desobedeceram. O prometido foi cumprido e a polícia lançou o gás sobre a avenida Hennessey, na Baía Causeway, ainda antes de a marcha começar. 

A tática dos manifestantes é moverem-se “como água”, ocupando a cidade em vários pontos sem nunca se fixarem num local específico. Pouco depois de a polícia ter conseguido dispersar os ativistas, em pânico devido ao gás lacrimogéneo, milhares de pessoas voltaram, em desafio à repressão policial, para a avenida Hennessey, em direção à sede de Governo da cidade. “Expulsar o Partido Comunista, libertar Hong Kong”, cantavam a certa altura. Muitos levavam faixas e bandeiras onde se liam frases contra a “China-nazi”.

Iniciada a marcha na Baía Causeway, os manifestantes foram-se deslocando para o bairro Wan Chai, que se tornou num foco de tensão entre as autoridades e os ativistas. Ás 15h40, a Unidade Tática Especial da polícia formou uma linha de defesa na estação de metro do bairro e os ativistas responderam atirando dois cocktails molotov e partindo as janelas da estação. 

Menos de uma hora depois, com os ativistas cada vez mais perto da sede de Governo, no distrito Admiralty, a polícia recorreu a canhões de água com tinta azul para identificar os manifestantes da linha da frente. 

Vários helicópteros sobrevoavam Hong Kong para controlar os protestos e, quando estes apareciam, os ativistas protegiam-se com guarda-chuvas. Segundo o Guardian, de um líquido não identificado que diziam estar a ser lançado das aeronaves.

A violência foi crescendo e ao início da noite o epicentro dos confrontos voltou a ser a Baía Causeway, onde chegaram a ser disparadas para o ar balas mortíferas por quatro polícias à paisana. Alegadamente para se defenderem de “ataques severos e cruéis” por parte dos manifestantes, justificou a polícia, citada pelo South China Morning Post. Não houve feridos. No mesmo distrito, os manifestantes vandalizaram carros das autoridades e erigiram barricadas às quais atearam fogo. Em resposta, novas rondas de gás lacrimogéneo.

A situação em Hong Kong contrasta com a que se vive em Pequim, onde na terça-feira se realiza uma marcha militar para comemorar as sete décadas da criação da República Popular da China.

Também na Austrália, em Taiwan e nalgumas cidades europeias e da América do Norte houve protestos a favor da democracia, assinalando o quinto aniversário da Revolução dos Guarda-Chuvas.

Os ativistas continuam a exigir a completa retirada da lei de extradição, que desencadeou os protestos e que o Governo já prometeu retirar, um inquérito à violência policial, uma amnistia para os manifestantes detidos, a desclassificação dos protestos como “motins”, e o sufrágio universal e direto.