Ruben Faria: ‘O objectivo era servir o senhor Cyril Despres’

Abdicou de lutar pela vitória no Dakar para se manter como fiel braço-direito, ou mochileiro, do líder da KTM. O francês já lhe perguntou: ‘E agora, o que queres fazer da tua vida?’

quando ciryl despres, líder da sua equipa (ktm), teve de trocar de motor, pensou em vencer o dakar?

nesse dia quis esperar por ele, mas mandou-me seguir. ele estava chateado, sabia que aquela avaria poderia deitar fora um ano de preparação. ele pensava que não ia acabar a prova e passaram-me mil coisas pela cabeça.

como a hipótese de ganhar?

não. só pensava: ‘o que me vai acontecer agora sem o cyril?, não estou preparado para fazer o dakar pelo meu resultado’. e não sabia o que fazer. ele é o piloto principal e nunca houve a hipótese de eu passar a ser o numero um.

não se imagina a ganhar um dia?

ainda não pensei nisso. o ciryl foi o primeiro a questionar-me: ‘e agora? o que queres fazer da tua vida?’. respondi-lhe que só queria ir para casa, estar com a minha família e que na semana seguinte logo pensava na minha vida.

como começou essa ligação ao piloto francês?

em outubro de 2009, a três meses do dakar de 2010, já pensava que não ia participar, por falta de patrocínios. em fins de novembro o ciryl telefonou-me: «ruben, vi que não estás inscrito e preciso de um mochileiro». fui ter com ele a andorra, fiz vários testes e escolheu-me a mim.

é por isso que não colocou a hipótese de deixar de ser o mochileiro dele para tentar a vitória este ano?

voltei a estar ao lado dele em 2011, 2012 e agora em 2013. o meu objetivo como mochileiro era servir o melhor possível o senhor cyril deprés e ajudá-lo a vencer o dakar pela quinta vez. não posso ter com objetivos pessoais. mas isso foi mudando ao longo da prova e, quando subi ao segundo lugar, a equipa disse-me para aguentar e fazer tudo para ir ao pódio, sem nunca deixar de apoiar o cyril.

que dificuldades sentiu em portugal ao longo da carreira até chegar a este nível?

estou onde estou à conta de um piloto francês. pode ter muitos defeitos, as pessoas dizem que tem, mas devo-lhe muito. gosto muito do meu país, mas a verdade é que sempre tive muitas dificuldades para correr em portugal. nunca tive apoios que me façam sonhar e quando dão alguma coisa é por obrigação. a trabalhar para o cyril, tenho todas as condições.

aos 38 anos, passou a ser o português com melhor o resultado de sempre no dakar.

a mim não me diz muito. não penso muito a nível pessoal. ficar em segundo é excelente, agora ser melhor do que o hélder [rodrigues] ou o hélder ser melhor do que eu não é importante. importante é a felicidade que temos no momento. se ele vencer o dakar vou ficar muito feliz, como ele ficou por mim este ano.

quando começou a interessar-se pelas motos?

o meu pai foi piloto e fez-me uma moto quando eu tinha cinco anos. aos oito fiz a primeira prova do nacional e aos 16 fui para a bélgica correr e deixei a escola. não estava a conseguir conciliar bem as coisas. tenho o 9.º ano porque comecei cedo a ser profissional.

quando surgiu a ideia de participar no dakar?

em 2006. eu e dois colegas pedimos 60 mil euros ao banco para comprar as motos e pagar as inscrições. antes fui campeão de motocrosse, enduro, supercrosse e todo-o-terreno.

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