Democratas apertam o cerco a Trump e aos seus aliados

Trump é acusado de pressionar tanto a Ucrânia, como a Austrália – que esteve na origem das alegações de influência russa nas eleições de 2016.

A investigação para a destituição do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ganha ímpeto a cada dia. Agora, não só é acusado de pressionar a Ucrânia em benefício próprio, mas também a Austrália. Enquanto isso, o Congresso aperta o cerco ao advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, que foi intimado a entregar todos os documentos relativos à Ucrânia. E a investigação tem na mira tanto o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo – que prometeu impedir os democratas de “intimidar” os seus funcionários a testemunhar – como o procurador-geral, William Barr.

Segundo a Associated Press, o procurador-geral mostrou-se “surpreso e furioso” por ser mencionado na transcrição da chamada de 25 julho, entre o Presidente ucraniano, Volodymr Zelensky, e Trump. O Presidente dos EUA ofereceu a ajuda de Barr para que Zelensky investigasse por corrupção o filho de um dos seus opositores políticos, Joe Biden. Também foi pedida uma investigação às origens da acusação de que a campanha de Trump, em 2016, teria tido apoio russo. Apesar de Barr ter ficado “surpreso” com o assunto, veio a descobrir-se que voou para Itália e para o Reino Unido para pedir apoio destes países à investigação, segundo o Washington Post.

O procurador-geral também está intimamente ligado à nova polémica com a Austrália. Aliás, o primeiro-ministro, Scott Morrison, admitiu ontem ter recebido uma chamada de Trump, a pedir-lhe que auxiliasse a investigação de Barr à alegada interferência russa. “O Governo australiano sempre esteve pronto a assistir e cooperar com os esforços para lançar mais luz sobre os assuntos sob investigação”, disse um porta-voz de Morrison. “O primeiro-ministro confirmou essa prontidão mais uma vez na conversa com o Presidente [Trump]”, acrescentou.

Tem sido realçado por juristas que não é habitual o procurador-geral estar tão envolvido numa investigação, muito menos o Presidente. “Numa investigação a sério”, a ligação é feita através dos respetivos departamentos de justiça, “não estão envolvidas chamadas telefónicas do Presidente”, twittou o antigo procurador de Nova Iorque, Harry Sandick.

 

O que tem a Austrália a ver com a Rússia? Pode parecer estranho que o procurador-geral dos EUA peça à Austrália informação sobre alegada interferência russa numa eleição norte-americana. Mas importa lembrar que a investigação à campanha de Trump começou com uma dica dada pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros australiano, Alexander Downer, segundo o New York Times.

Em maio de 2016, após uma “noite de muita bebida”, George Papadopoulos, conselheiro de relações externas da campanha de Trump, terá contado a Downer que Moscovo obteve emails comprometedores da adversária de Trump, Hillary Clinton. O diplomata terá informado de imediato os seus superiores. Estes transmitiram a informação a Washington meses depois – após a Wikileaks começar a divulgar os emails de Clinton – despoletando a investigação do FBI, segundo a Times.

“Tive uma conversa com este tipo [Papadopoulos] e passei um elemento da conversa aos americanos. Nada mais”, assegurou ontem Downer – que estava nos estúdios da ABC quando saiu a notícia de que Morrison aceitou colaborar com Trump. “Adeuzinho Downer”, escreveu no Twitter Papadopoulos – que negou a versão dos eventos dada pelo ex-ministro. 

A maré mudou? Apesar de tudo isto, os republicanos mantém-se firmes no apoio ao Presidente. Contudo, a maré parece está a virar, pelo menos no que toca ao público norte-americano, 47% do qual apoia o impeachment – mais 11% do que em maio, segundo uma sondagem da CNN. No entanto, dado que a maioria dos congressistas já se demonstrou a favor da destituição do Presidente, o assunto deverá ser decidido no Senado – onde os republicanos têm maioria.

Especulou-se que o presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, impedisse o impeachment de chegar à câmara alta. Mas McConnell já assegurou que, caso a Câmara dos Representantes assim decidisse, “não teria outra escolha” que não deixar os senadores votar – mais um golpe para Trump.