O senhor ministro das Finanças

E aí é que a ‘geringonça’ foi útil. Com BE e PCP comprometidos, a contestação sindical ficou também politicamente controlada, exceção feita aos casos, que os houve, das greves convocadas por sindicatos não arregimentados pela UGT e CGTP – em que o Governo mandou a lei da greve às malvas. Serviu, nessas ocasiões, o notável…

António Costa, quando reagir na noite de domingo à vitória do PS nas urnas e à legitimação da sua continuidade como primeiro-ministro na próxima legislatura, deveria em primeiro lugar agradecer a Mário Centeno.

Porque ele é o verdadeiro responsável pelo estado das contas da Nação. Ainda que, consequentemente, o seja também pela falência do Estado em todas as outras funções públicas – muito embora, nestes casos, o ónus tenha sempre recaído em quem tinha a respetiva tutela. 

Daí, aliás, também a satisfação de Centeno com os números divulgados pelo INE neste final de legislatura e em plena campanha eleitoral – melhorando quase todos os indicadores da economia nacional por via da correção dos critérios –, que bate certo com o facto de ser ele o ministro das Finanças: ao fim de quatro anos, cumpriu o seu dever e os objetivos a que se propôs quando aceitou o desafio de António Costa, conquistando entretanto a confiança de Bruxelas ao ponto de ser eleito presidente do Eurogrupo e acumulando uma invejável popularidade.

Um feito extraordinário, mais até pelo facto de se tratar de um Governo socialista apoiado pelo BE e pelo PCP.
Centeno conseguiu os resultados que conseguiu porque, beneficiando embora de uma conjuntura internacional e sobretudo europeia muito favorável, descobriu nas cativações e no investimento público zero a solução para a redução da despesa. E no aumento dos impostos indiretos como nunca se viu a fórmula incontestada para o crescimento da receita, porque baixou os impostos sobre o rendimento do trabalho dos mais carenciados por forma a iludir os contribuintes em geral.

Assim, e para todos os efeitos, ele cumpriu. Os outros é que não. A realidade não é bem assim, mas isso pouco importa.

A culpa das trágicas consequências dos incêndios de 2017 recaiu sobre as alterações climáticas e quem pagou por todos  foi a impotente e desesperada ministra da Administração Interna.
O estado a que chegou o SNS acabou por sacrificar Adalberto Campos Fernandes e a sua substituta, Marta Temido, nada conseguiu fazer para deixar boa memória.

Pedro Marques foi despachado para Bruxelas com os transportes num caos e as principais infraestruturas em rutura (mete dó a comparação do país com qualquer região da vizinha Espanha).

A Educação não melhorou em nada – e ainda estamos para saber em quanto desinvestimento em bons manuais há de resultar a ideia da distribuição gratuita dos mesmos, reutilizáveis ou não, e qual será a contrapartida da desmotivação dos professores pelas expectativas goradas pelo Governo socialista e seus parceiros de ‘geringonça’, mais os aselhas de Cristas e Rio enrolados naquela famosa comissão.

A responsabilidade política pela vulnerabilidade dos paióis de Tancos também já fora do inábil Azeredo Lopes.

A verdade é que, quatro anos de ‘geringonça’ volvidos, e por mais que tente disfarçar-se, não há um único serviço público a melhor servir os portugueses do que nos austeros tempos da troika. Bem antes pelo contrário. Nunca os serviços públicos estiveram tão escandalosamente maus. E são demasiadas e demasiado graves as falhas.

Porque se não há como justificar esperas impensáveis para tirar um simples cartão do cidadão, apesar de tudo há males bem piores.

E aí é que a ‘geringonça’ foi útil. Com BE e PCP comprometidos, a contestação sindical ficou também politicamente controlada, exceção feita aos casos, que os houve, das greves convocadas por sindicatos não arregimentados pela UGT e CGTP – em que o Governo mandou a lei da greve às malvas. Serviu, nessas ocasiões, o notável apoio de Pedro Nuno Santos, negociador-mor do reino.

Mas a verdade é que, tudo somado, as contas da Nação estão a bater certo e Costa prepara-se para receber pela primeira vez o mandato do povo para governar.

Muito à custa de Mário Centeno e da sua invejável popularidade.

O que, valha a verdade, não é inédito na democracia nem na História de Portugal.

Com efeito, foi um em tempos ministro das Finanças que mais tempo esteve à frente do Governo no pós 25 de Abril e que, depois, ainda esteve outros 10 anos como Presidente da República: Cavaco Silva. Mais, outros ministros das Finanças também chegaram a líderes dos dois maiores partidos: Vítor Constâncio do PS e Manuela Ferreira Leite do PSD. E um outro, independente, acabou a liderar a lista do PS às europeias: Sousa Franco. E muitos mais ministros das Finanças houve que tiveram carreiras nacionais e internacionais de enorme relevo: de Silva Lopes a Maria Luís Abuquerque, passando por Medina Carreira, João Salgueiro, Ernâni Lopes, Eduardo Catroga, Guilherme d’ Oliveira Martins, Bagão Félix ou Vítor Gaspar. Isto para só falar dos ministros das Finanças no Portugal democrático.
Antes disso, houve o outro… que bateu todos os recordes.

Por que será que os portugueses acabam sempre rendidos aos ministros das Finanças?