Dia de reflexão, Tancos, Rio e os animais que falam

Que sentido faz manter-se uma imposição destas? O que é isso do dia de reflexão se se pode votar durante a campanha eleitoral? Obrigar os jornais a anteciparem a saída em um dia ou a não falarem sobre nenhum assunto da campanha é de quem vive no tempo da pedra lascada. Que se proíba ações…

1. No passado domingo, cerca de 50 mil pessoas puderam votar antecipadamente desde que o tivessem solicitado. Puderam fazê-lo sem apresentarem qualquer justificação como, por exemplo, não estarem na sua área de residência no dia 6 de outubro. Calculo que muitos dos que pediram para poder votar antecipadamente o fizeram para evitar alguma confusão no dia 6 de outubro. Imaginemos que o número tinha sido muito superior, e que 500 mil pessoas queriam ter exercido o seu direito de voto no passado domingo. Mas para esses, ou para os 50 mil, não existe o dia de reflexão? E até se pode ter dado o caso de muitas das mesas de voto do passado domingo terem estado ‘cercadas’ por comícios ou arruadas partidárias…

Que sentido faz manter-se uma imposição destas? O que é isso do dia de reflexão se se pode votar durante a campanha eleitoral? Obrigar os jornais a anteciparem a saída em um dia ou a não falarem sobre nenhum assunto da campanha é de quem vive no tempo da pedra lascada. Que se proíba ações de campanha junto às mesas de voto, é pacífico; tudo o resto é puro folclore. Também se vai punir os eleitores que colocarem nas suas redes sociais os seus apelos partidários? As redes sociais vão cumprir o dia de reflexão?

2. A trapalhada de Tancos prova que a nossa democracia ainda é muito verde. Se os procuradores responsáveis pelo caso queriam colocar questões ao Presidente da República e ao primeiro-ministro, por que razão não puderam fazê-lo? Não seria preferível Marcelo e Costa conseguirem defender-se, acabando com as especulações? A democracia não teria a ganhar com isso? Todo o caso é lamentável. Ah! E o regresso de José Sócrates à ribalta, com um texto a defender que o caso de Tancos é semelhante ao seu, não foi nada bom para o PS, embora o antigo primeiro-ministro cada vez faça lembrar mais os fanáticos saudosistas de Estaline. Já poucos lhes ligam…

3. Por muitos dos sítios por ando ando oiço pessoas a elogiarem a campanha de Rui Rio e a dizerem que António Costa é muito fraco na rua. Será mesmo assim? Domingo veremos de que lado está a razão. Certo é que o PSD e o CDS, juntos, tiveram nas últimas legislativas 38,5% dos votos. Conseguirá Rio aproximar-se dos 33%, dando de barato que o CDS representou os restantes 5,5%? Que Costa vai ter mais do que os 32% das últimas legislativas parece consensual, mas veremos se consegue ter um resultado que o aproxime da maioria absoluta – algo que parece cada vez mais difícil de acontecer.

4. Os pequenos partidos, tudo o indica, poderão ser a grande surpresa da noite. O Livre e o Iniciativa Liberal estão próximos, segundo as sondagens, de conseguirem eleger um deputado. O_Chega também não anda muito longe, e a grande novidade poderá mesmo ser a não eleição de Santana Lopes. Por fim, o PAN. Com o seu radicalismo mais ou menos encapotado, André Silva não vai estar só no Parlamento. Vai ter mais defensores das ervas contra a carne na AR. E aí, acredito, o seu radicalismo vai deixar de ser encapotado. Preparem-se para mais proibições e para um Serviço Nacional de Saúde para cães e gatos enquanto os velhos vão continuar nos corredores dos hospitais à espera de uma cama e de assistência condigna. E, claro, mais proibições para o consumo da carne, para o uso de determinados materiais e por aí fora.

vitor.rainho@sol.pt