O socialismo triste e a esquerda alegre

Um qualquer primeiro-ministro não poderia deixar de condenar politicamente o que aconteceu em Tancos e a incapacidade do seu ministro da Defesa

O Manuel Alegre situou o problema do Partido Socialista.

Ele, o PS, é a esquerda. Não precisa de adventícios candidatos a ocupar o seu espaço.

Mas, sendo a esquerda, não chega.

Precisa de um Centeno ou de outro qualquer artífice do equilíbrio, alguém que alargue as costas do primeiro dos ministros.

Só que, quando a torção é demasiada, além do problema muscular, aparece um candidato a ocupar o seu espaço, a atacar por esse lado.

Com um discurso a várias velocidades ou geografias, note-se.

Reivindicando a autoria das medidas simpáticas ou tentando anexar bandeiras.

A nova esquerda quer tudo, os louros todos, a montra.

Apropriando-se do Serviço Nacional de Saúde, reconfigurando as boas contas. Fazendo-se caber na sua promoção e defesa.

Inventando os impostos para financiar a segurança social, ou erradicando as parcerias público-privadas, ou arriscando um programa de nacionalizações.

No limite, recordando a ferida em aberto de não ter o Partido Socialista ganho as eleições e reforçando a sua indispensabilidade.

O que esta nova esquerda quer é uma de duas coisas: ou conseguir o efeito de um abraço de urso, ou conquistar eleitorado socialista.

Portanto, inibir ou enfraquecer o aliado.

É por essas e por outras que o conflito é inevitável.

Tudo correria menos mal se o partido da oposição do centro se esvaísse e se não afirmasse como oposição.

Mas, se assim não for e o PSD fizer o que deve, o dramatismo cresce.

Partido Socialista e Bloco enfraquecem.

O Partido Socialista porque ocupa o seu lugar, a nova esquerda porque é sugada.

Isto significa, nas sondagens eleitorais, a impossibilidade da maioria absoluta que o PS pretende e o emagrecimento do BE. Ou seja, o que existe.

Esta é a questão do momento. O impasse.

O resto, a momentosa querela sobre o triste episódio de Tancos é, apenas, uma narrativa sobre como se não deve governar, como se não deve fugir às responsabilidades, como se fica sem palavras.

Podem uns questionar a intenção ou a oportunidade do Ministério Público, podem outros reclamar sobre a condenação sem julgamento ou a imputação de responsabilidades criminais inexistentes.

De tudo quanto se sabe é legítimo concluir que um qualquer primeiro-ministro não poderia deixar de se pronunciar condenando politicamente o que aconteceu e a incapacidade do seu ministro.

Era bastante.

É por estas e pelas outras que está tudo em aberto.

Mas talvez não fosse má ideia esclarecer tudo.

Por exemplo: se quem cobra mais impostos, em termos absolutos, é mais ou menos justo, se quem anuncia mais despesa e cativa mais fortemente diz ou não a verdade, se quem corta no investimento público compensa ou não com o investimento privado, se quem privilegia os grandes centros reequilibra o país, se o apoio a uma minoria é ou não uma sociedade protectora.

O que pensam e querem os portugueses sem que lhes tentem moldar as respostas.

O dr. Centeno precisa de saber o que vai fazer à sua vida.