Tancos. Azeredo diz que já esperava um “assassinato no espaço público”

Ex-ministro reagiu ontem a uma notícia do i, referindo que tem mantido o silêncio por acreditar que a justiça não se “confunde com manchetes orientadas para determinados fins”. 

O ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes reiterou ontem a sua inocência, lançando duras críticas ao que considera ser o seu “assassinato no espaço público”. A reação surgiu ontem, depois de o i ter revelado emails trocados entre o diretor da PJ Militar, Luís Vieira, e o então porta-voz daquela polícia, Vasco Brazão, em que fica claro como informações relativas à investigação paralela eram passadas à tutela. Numa das conversas, dias após o achamento, é inclusivamente referido que vai ser usado um “telefone seguro” do ministério para falar com Azeredo, que se encontrava fora da capital.

“Tenho-me mantido em silêncio, e continuarei em silêncio, porque acredito que a justiça não se confunde com manchetes orientadas para determinados fins – aliás, óbvios e facilmente descortináveis. Não me pesa na consciência nada daquilo de que me acusam, porque sou absolutamente inocente, e não serão estas ‘notícias’ e outras cortinas de fumo que me farão mudar de atitude”, disse Azeredo Lopes numa nota enviada a uma agência noticiosa.
Sobre o caso de Tancos, Azeredo Lopes defendeu ainda que todos os dias têm sido publicadas pela imprensa “efabulações retiradas do processo destinadas a inculcar na opinião pública, de forma bastante primária,” a sua suposta culpa.

O antigo ministro disse ainda que já tinha antevisto que o seu “assassinato no espaço público estava garantido, no tempo e no modo”, reforçando o que já antes havia dito, ou seja, que vai agora defender-se “nos tribunais”.

Os emails que comprometem o ex-ministro Tal como o i revelou ontem, emails trocados entre o coronel Luís Vieira, diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), e o inspetor-chefe da instituição, major Vasco Brazão, há cerca de dois anos, pouco após o “achamento” do armamento roubado em Tancos no início do verão de 2017, desmentem as insistentes alegações do ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes de que desconhecia a encenação preparada com os ladrões para a recuperação do material furtado.

Com efeito, embora Azeredo Lopes, alegando estar no Porto, tenha garantido não ter marcado nem estado presente na reunião de 20 de outubro de 2017, organizada no Ministério da Defesa, em que os responsáveis da PJM entregaram ao seu chefe de gabinete um memorando narrando o que se passara, as comunicações eletrónicas entre Vieira e Brazão indicam que, na véspera desse dia, os dois oficiais preparavam documentação exaustiva sobre a ocorrência para enviar ao ministro por via digital segura, através da aplicação WhatsApp. Na véspera, já sabiam que iam conseguir falar com o ministro, referindo inclusivamente que tal contacto ia ser feito através de um “telefone seguro”.

Na véspera da reunião, num email trocado entre Luís Vieira e Vasco Brazão pode ler-se como ambos já sabiam que iam entrar em contacto com o ministro, que estaria ausente do ministério: “A atualização deste documento, com esta forma ou outra. Como é por telefone seguro do gabinete mdn [Ministro da Defesa Nacional] eu quero mandar-lhe documentos e responder a dúvidas. Mas quero inserir neste documento a enviar em referências na fita ou em observações. Atenção que eu ao chefe da casa militar do PR contei tudo o que sabia referida à data de 19set. O 1.o min [António Costa] deve estar a receber inputs de vários lados”.

Segundo a investigação, estes contactos – que já vinham de trás – tinham o objetivo de garantir o apoio político para uma operação que a PJM sabia não ser sua e que estava a ser feita à margem da lei.

O Ministério Público (MP) acusou 23 arguidos no processo de Tancos, entre os quais o ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes e o ex-diretor geral da Polícia Judiciária Militar Luís Vieira.

Azeredo Lopes está acusado de, com outros arguidos, ter praticado um crime de denegação de justiça e prevaricação e outro de favorecimento pessoal praticado por funcionário. E terá ainda praticado sozinho um crime de abuso de poder e um de denegação de justiça.

Quanto a Luís Vieira, está acusado de um crime de associação criminosa, um de tráfico e mediação de armas, um de falsificação e contrafação de documentos, um de denegação de justiça e outro de favorecimento pessoal praticado por funcionário. Todos estes crimes, segundo o MP, foram praticados em coautoria com outros arguidos.
Com Felícia Cabrita

 

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