Jogadora do Braga vítima de racismo em Cantanhede

“Sou mulher negra e não vou pedir desculpas por isso”

A futebolista norte-americana Shade Pratt revelou, esta quarta-feira, ter sido vítima de racismo no jogo entre o Sporting de Braga e o Cadima, em Cantanhede, que decorreu no domingo, através de uma publicação na sua conta oficial nas redes sociais, no Instagram.

Shade Pratt, de 26 anos, revelou que durante o jogo com o Cadima, em Cantanhede, no qual as bracarenses venceram por 7-0, foi insultada por uma adepta da equipa adversária que se encontrava na bancada, depois de ter marcado um dos sete golos.

Na sua conta oficial do Instagram, a futebolista afirma que “como norte-americana com ascendência africana, o racismo e as micro agressões diárias não me são estranhas, mas, no último fim de semana, em Portugal, aconteceu-me uma situação destas quando praticava o desporto que amo”, explicando que “uma fã da equipa adversária atirou-me um insulto racista durante o jogo”, com a União Recreativa Cadima, coletividade de uma freguesia do concelho de Cantanhede, no distrito de Coimbra.

“Ela decidiu esconder-se entre a multidão e não se atreveu a vir dizê-lo na minha cara. As pessoas que estavam ao lado dela e que permitiram que ela se escondesse, escolheram um lado nesta luta contra o racismo ao ficarem silenciosas e talvez permitindo que ela venha a repetir este comportamento”, ainda segundo Shade Pratt.

“Pela parte que me toca, vou escolher sempre confrontar e denunciar em todas as circunstâncias, que é o meu dever, tenho de me lembrar que as ações doentias dos outros não podem quebrar a minha confiança, o meu espírito e a minha felicidade, sou uma mulher negra e não vou pedir desculpas por isso. Escolhi sobrepor-me nesta luta e vou continuar a fazê-lo”, salienta a futebolista do Sporting Clube de Braga.

 

“Não ao racismo”, diz o Braga

O Sporting Clube de Braga, em comunicado, refere “ter uma história e uma identidade muito claras na defesa e na promoção dos valores que queremos para o desporto e para a sociedade”, confirmando ter participado já a situação à Federação Portuguesa de Futebol.

“Sabemos de que lado estamos, quer enquanto instituição, quer enquanto grupo de pessoas que se unem em torno de um símbolo e que partilham dos seus princípios”, como acrescenta o clube minhoto, destacando que “ser do Sporting Clube de Braga implica a valorização do outro, o respeito pela diferença e a luta intransigente por uma convivência que salvaguarde aquilo que defendemos para a vida em comunidade”.

“A discriminação é, para este clube, um ataque intolerável às regras básicas que norteiam a nossa noção de sociedade e não passará sem a devida denúncia e a afirmação categórica do posicionamento que exigimos para o Sporting Clube de Braga”, de acordo com o clube de Braga.

“Com a coragem que lhe admiramos, a nossa atleta Shade Pratt decidiu tornar público um episódio lamentável e que já mereceu, da parte do clube, uma participação disciplinar para a Federação Portuguesa de Futebol, cujo histórico é também claro na defesa deste desporto enquanto veículo de aproximação entre as pessoas, qualquer que seja a sua origem”, informa o Sporting de Braga.

“A nossa atleta teve, desde a primeira hora, total apoio da estrutura do clube e das suas colegas de plantel, um plantel multicultural, que cultiva o valor da diferença e que tem na diversidade uma das suas maiores riquezas, fator de união e de identidade comum que é também uma das razões do nosso sucesso enquanto clube e da nossa equipa feminina em particular”, salienta-se no comunicado.

“Há momentos definidores que exigem das grandes instituições uma resposta firme: o racismo deve ser denunciado e combatido, pelo que o Sporting Clube de Braga e as pessoas que o fazem não deixarão de expressar o seu rotundo NÃO ao racismo e a toda e qualquer forma de discriminação”, conclui o clube.