Chile. Helicópteros, tanques e milhares de soldados nas ruas

O que começou como protesto contra o preço dos bilhetes de metro transformou-se em algo mais.

Tanques, helicópteros e milhares de soldados tomaram as ruas de Santiago do Chile, na madrugada de domingo. Impuseram o estado de emergência em resposta à segunda noite de protestos massivos contra o aumento do preço dos bilhetes de metro. A magnitude dos distúrbios, num dos países mais ricos mas também mais desiguais da região, surpreendeu os analistas e fez três mortos, devido ao incêndio de um supermercado saqueado.

Os protestos foram convocados este fim de semana por estudantes, que se dirigiram às estações de metro para ajudar utentes a não pagar os bilhetes, que passaram a custar 830 pesos chilenos (1,05 euros) em vez de 800 (1,01 euros). Uma diferença de valor que parece irrisória – mas é o vigésimo aumento nos últimos doze anos. O resultado desta gota de água que fez transbordar o copo foram quase 80 estações de metro danificadas só na capital, num total de estragos estimado em cerca de 175 milhões de euros pelo Governo.

Contudo, ficou claro que a raiz do descontentamento era muito mais profunda do que o preço dos bilhetes de metro, numa cidade em que o custo médio da habitação subiu cerca de 150% na última década – uma subida que não foi acompanhada pelos salários. Segundo o jornal El Comercio, mais e mais manifestantes juntaram-se à mobilização, com gritos de “basta de abusos”, respondendo ao hashtag #ChileDespertou. 

Os protestos descambaram em enormes batalhas campais. Manifestantes bateram panelas, montaram barricadas e incendiaram veículos, enquanto a polícia disparava balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água. Isto pelo meio de saques a estabelecimentos comerciais, que obrigaram muitos a fechar.

O Governo chileno do Presidente Sebastián Piñera compreendeu rapidamente o que enfrentava e suspendeu o aumento das tarifas do metro da capital – utilizado diariamente por cerca de três milhões de pessoas. 
Ao mesmo tempo, Piñera decretou o estado de emergência em várias cidades do Chile, restringindo a liberdade de reunião e impondo o recolher obrigatório durante 15 dias.

“As pessoas devem ficar nas suas casas. E as que precisem de sair deverão pedir um salvo-conduto”, explicou o general Javier Iturriaga. Nunca se tinha aplicado tal medida no Chile desde o fim da ditadura militar de Augusto Pinochet. Só ontem, pelo menos 244 pessoas terão sido detidas por violar o recolher obrigatório, segundo o El País, enquanto o Instituto Nacional de Direitos Humanos recebeu “denúncias de torturas e maus tratos” pelas autoridades.