BCE. Mario Draghi despede-se 8 anos depois sem novas medidas

Mandato foi marcado sobretudo pela crise da dívida soberana e sua recuperação. Christine Lagarde assume pasta no dia 1 de novembro.

Mario Draghi presidiu ontem à sua última reunião enquanto presidente do Banco Central Europeu (BCE), pondo fim a oito anos de mandato. A liderança será assumida por Christine Lagarde a partir de 1 de novembro. Na sua despedida, o responsável admitiu que continuam a existir “riscos significativos” que travão a economia da zona euro e, dá como exemplo, a tensão comercial e o Brexit. Ainda assim, foi uma sessão sem sem surpresas. O BCE manteve os juros em mínimos históricos e voltou a confirmar que irá avançar com a implementação de um novo pacote de estímulos.

“Na reunião, o Conselho do Banco Central Europeu decidiu que a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão inalteradas em 0,00%, 0,25% e −0,50%, respetivamente”, lê-se na decisão divulgada esta quinta-feira. A última taxa referida foi reduzida de -0,4% para -0,5%, decidida na reunião de 12 de setembro.

Já em relação ao pacote de estímulos, as aquisições líquidas do programa de compra de ativos, nomeadamente obrigações soberanas da Zona Euro, serão feitas a um ritmo mensal de 20 mil milhões de euros – um montante abaixo do volume do programa anterior – a partir de 1 de novembro. Ficou ainda decidido que as compras líquidas vão decorrer até quando for necessário para “reforçar o impacto acomodatício das taxas diretoras”. A expectativa é que as compras terminam “pouco antes de começar a aumentar as taxas de juro diretoras do BCE”.

Além de fazer novas compras, o banco central compromete-se também, como tem vindo a fazer desde que o programa anterior terminou em dezembro de 2018, a reinvestir na totalidade os títulos que entretanto chegarem à maturidade. Este reinvestimento decorrerá “durante um período prolongado após a data em que comece a aumentar as taxas de juro diretoras do BCE e, em qualquer caso, enquanto for necessário para manter condições de liquidez favoráveis e um nível amplo de acomodação monetária”. 

Desafios

O mandato de Draghi ficou marcado sobretudo pela crise da dívida soberana europeia e respetiva recuperação. E a verdade é que, durante a sua liderança nestes oito anos, nunca subiu as taxas de juro. 

Lagarde, depois de ter estado à frente do Fundo Monetário Internacional entre julho de 2011 e setembro de 2019, já veio garantir que quer que o BCEse envolva em outros temas. Um deles é o desafio climático, o outro são os impactos da revolução tecnológica nomeadamente na área financeira, a desigualdade e a fragmentação da ordem internacional. 

A futura responsável do BCE também tem vindo também a chamar a atenção para o facto da política orçamental a ser levada a cabo pelos governos da zona euro de não sobrecarregar a política monetária. “Os países [da zona euro] que têm algum espaço orçamental devem usá-lo”, afirmou.