O bebé Rodrigo nasceu no Hospital de S. Bernardo, em Setúbal, mas todo o acompanhamento da gravidez foi feito pelo médico Artur Carvalho numa clínica privada ali próxima, a Clínica Eco Sado.
O caso é dramático e inadmissível. Como é possível nos dias que correm os pais serem surpreendidos em pleno parto com tão graves e dramáticas malformações do seu bebé, acabado de nascer, ainda com cordão umbilical, e só quando colocado no colo da mãe?
É horrível. Um choque e um sofrimento inimagináveis – para aquele bebé, para aquela mãe e para aquele pai que assistia ao parto.
A indignação é geral, mas as autoridades competentes, da Ordem dos Médicos ao Ministério Público, passando pelo Ministério da Saúde e pelo conselho de administração do Hospital S. Bernardo, agiram de imediato e adequadamente, não só para apurar responsabilidades naquele caso concreto, mas também para se perceber como foi possível, ao longo de anos, terem-se repetido as queixas e os processos contra o médico em causa sem que tenha alguma vez existido qualquer consequência para o mesmo, nomeadamente no exercício da sua atividade médica. E as consultas de obstetrícia na Clínica Eco Sado foram imediatamente suspensas – embora não se saiba se por iniciativa de alguma entidade externa ou por decisão interna, sendo que mais importante atendendo ao que se passou é que foram suspensas.
Casos como o desta família não podem repetir-se. Nem há como justificar que com todos os meios científicos e tecnológicos ao dispor da Medicina continuem a cometer-se erros tão grosseiros. É criminoso! Têm de apurar-se todas as responsabilidades e retirar-se todas as consequências.
Desta vez, não pode ou não deve culpar-se o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mas não deve deixar de questionar-se o ‘sistema’ que permite que erros destes possam ser reiterados por um médico contra o qual foram apresentadas, desde há anos, várias queixas que deram origem a outros tantos processos que nunca tiveram outra consequência que não o esquecimento numa qualquer secretária ou estante ou o simples arquivamento.
Cuide-se, porém e também, do estado a que chegou o SNS, por inúmeras testemunhas descrito como nunca antes tão degradado. Sejam utentes, familiares destes, auxiliares, técnicos, enfermeiros ou médicos. Todos dizem o mesmo. Nunca se viu tamanha degradação.
E o poder político entretém-se durante anos à volta de leis de bases que, na prática, nada resolvem e deixam tudo na mesma.
A questão é que, nos últimos anos, houve um desinvestimento na Saúde como nunca visto (e não basta dizer que entraram mais técnicos para o SNS – porque também se reformaram muitos – nem que a despesa aumentou, porque, nos últimos quatro anos, o que aumentou foi o peso salarial, sobretudo fruto da redução das 40 horas para as 35 horas de trabalho semanal, aumentando exponencialmente os inevitáveis gastos com horas extraordinárias compensatórias).
Faltam mesmo médicos e enfermeiros.
Como faltam medicamentos – de forma gritante e muito grave.
O Serviço Nacional de Saúde está como nunca esteve. Nem no tempo da troika.
No entanto, e apesar das vítimas, neste caso, sermos milhões, as autoridades competentes demoram a reagir, e mal.
Preocupam-se, sobretudo, em tentar negar as evidências.
A recondução de Marta Temido e a promoção de Jamila Madeira e António Sales são sinais de que o novo Governo não irá mudar coisa alguma.
Na Saúde – como no resto – António Costa apostou em rodear-se de gente do aparelho socialista com capacidade política para defender o que (não) tem sido feito, muito mais do que apostar em gente empreendedora e com provas dadas de poder fazer diferente, para muito melhor.
O novo e grande Governo foi todo pensado para responder ao desafio da preparação da próxima presidência da União Europeia. Daí ser tão mais político e aparelhístico (três dezenas de governantes vêm diretamente da bancada parlamentar socialista).
Costa quer um Executivo preparado para o combate, tipo ‘corpo de intervenção’ para acudir a momentos mais críticos que já vai antecipando – e de que até aqui não precisou porque a sociedade em que vivemos esteve nos últimos anos igualzinha à Oposição: ensimesmada, acrítica e amorfa.
E assim continua. Até ver.