A notícia de que o Parlamento Europeu colocou no mesmo plano o fascismo e o comunismo incomodou muita gente.
Sobretudo na esquerda.
Uma parte da esquerda ainda considera que comunismo e fascismo são coisas completamente diferentes.
Um é ‘intrinsecamente’ bom’, o outro é ‘intrinsecamente mau’.
E quando falamos dos crimes de Estaline, essas pessoas da esquerda não desarmam: alegam que «é preciso fazer a distinção» entre o comunismo e o estalinismo.
O problema começa a complicar-se quando invocamos os crimes de Mao.
É também preciso fazer a separação entre o comunismo e o maoismo?
E os crimes de Pol Pot?
Também não têm nada que ver com o comunismo?
A esquerda gosta de recordar – e bem – os atrozes crimes do fascismo e do nazismo, as câmaras de gás, os campos de extermínio, os fornos crematórios; mas não gosta nada que se recordem os crimes do comunismo.
Ora, lembro-me da história de um carrasco que numa região remota da URSS tinha por função fazer execuções a machado.
Quando chegava a casa, por mais que se lavasse, não conseguia tirar o cheiro do sangue.
E a certa altura percebeu que os seus antecessores tinham todos desaparecido: eram testemunhas demasiado incómodas para ficarem vivas.
Então fugiu – e só no estrangeiro ganhou coragem para contar a sua história.
Recordo igualmente um episódio da guerra entre a URSS e a Finlândia.
Uma batalha sobre um lago gelado, onde os soldados travaram lutas corpo a corpo.
A certa altura, a placa de gelo quebrou-se e os soldados afundaram-se nas águas geladas.
Muitos nadaram, alguns conseguiram atingir as margens, mas tiveram sortes diferentes: enquanto os sobreviventes finlandeses eram recebidos com aplausos, os soviéticos eram recebidos a tiro: fuzilados.
Lembro-me ainda de uma cena envolvendo um velho militante comunista chinês – tão convicto que não deixara a mulher grávida beneficiar de privilégios a que tinha legalmente direito, entregando-a quase à morte -, o qual, na revolução cultural, foi alvo de uma acusação qualquer por parte dos alunos e sujeito a humilhações ignominiosas.
Sem direito a defesa, foi passeado pelas ruas da cidade em cima de uma camioneta de caixa aberta, com os alunos a baterem-lhe com paus.
A esquerda teima em não querer entender que não há que fazer a separação entre estes abusos e o ‘comunismo’.
Teima em não ver que em nenhum local do mundo existe (ou existiu) esse comunismo ‘puro’, democrático, sem repressão e sem presos políticos.
O comunismo é um regime imposto de cima para baixo, do vértice para a base, e para conseguir uma utópica igualdade entre os seres humanos precisa de usar a força.
Assim, o uso da força faz parte do ‘sistema’.
Quem se distinga, quem se eleve acima da mediania, é logo objeto de suspeita.
Não pode haver propriedade privada porque toda a propriedade é do Estado.
As religiões são combatidas, pois significam um desafio à ideologia do partido.
A ideia de família é reprimida, pois as crianças devem ser educadas pelo Estado, segundo o ideário comunista, e não segundo os padrões ‘burgueses’ que os pais tendem a transmitir aos filhos.
Por isso, os Estados comunistas são ‘Estados totalitários’.
Ou seja; têm o monopólio da política, através do partido único, têm o monopólio da propriedade, pois tudo pertence ao Estado, e têm o monopólio da religião, que é a ideologia oficial.
É óbvio que num regime assim não pode haver liberdade.
Para começar, uma pessoa não pode ser contra o regime – porque, se perder o emprego, não tem outro ‘patrão’ para o empregar.
Fica eternamente desempregado – ou então retrata-se ou foge para o estrangeiro.
E os que mesmo assim resistem são presos, deportados ou simplesmente executados.
Exemplos não faltam.
E houve chacinas em massa, como aquela que se abateu contra os mencheviques.
O comunismo e o fascismo – que nasceu como reação a ele – são duas faces da mesma moeda.
São regimes totalitários, ponto.
São regimes por natureza violentos e imperialistas.
Assim, entre um e outro venha o diabo e escolha.
O comunismo soviético ou o fascismo alemão foram terríveis manifestações do lado obscuro da natureza humana.
Quem pode defender um contra o outro?