Abandonos e fragilidades na Câmara de Lisboa

Parece evidente a crescente fragilidade da maioria socialista face ao cenário inicial, com mudanças sucessivas na equipa e a incerteza na viabilização de propostas. Fernando Medina tem o desafio de demonstrar que consegue superar estas contrariedades.

Sucedem-se as mudanças nos órgãos municipais de Lisboa. Por uma razão ou por outra figuras relevantes nos órgãos do município têm abandonado os cargos que ocupavam, provocando instabilidade e deixando a maioria socialista mais frágil. A este cenário junta-se o crescente mal-estar na coligação entre socialistas e bloquistas na Câmara.

Logo no início do mandato autárquico verificou-se a saída do vice-presidente da câmara – Duarte Cordeiro – que transitou para o Governo. Trata-se de uma baixa relevante no executivo pelo peso e autoridade política na estrutura socialista e também pelo importante papel de gestão política que desempenhava na Câmara.

Recentemente concretizou-se mais uma importante baixa no executivo camarário com a saída do vereador do urbanismo. Manuel Salgado detinha alguns dos pelouros mais relevantes na câmara, a par de um conhecimento profundo da cidade e da máquina camarária. A sua saída deixou a equipa camarária, independentemente das opiniões quanto às políticas seguidas, sem o principal concretizador das acções do executivo.

A última alteração anunciada é o abandono da presidente da Assembleia Municipal. Helena Roseta foi eleita pelo partido socialista e é o rosto do movimento ‘Cidadãos por Lisboa’. Destacou-se na defesa de políticas de habitação e contribuiu para afirmar a Assembleia Municipal enquanto casa da democracia e da representação activa dos cidadãos, imprimindo uma dinâmica assinalável na intervenção deste órgão. A sua saída acontece na sequência da recusa do PS, no Parlamento, de muitas das suas propostas relativas à habitação, coincide com a sua não recondução na Assembleia da República e deixa a actual maioria sem um rosto com notoriedade a liderar a Assembleia Municipal.

Entretanto, o Bloco de Esquerda que garante, através de uma coligação em coligação com o Partido Socialista na Câmara Municipal, a maioria de vereadores, tem manifestado crescentes divergências com o PS nas posições que assume, quer na Assembleia Municipal, quer mesmo na própria câmara, colocando em causa a aprovação de algumas propostas ou viabilizando, mas afirmando, ao mesmo tempo, críticas às mesmas.

Perante este conjunto de factos e percepções, parece evidente a crescente fragilidade da maioria socialista face ao cenário inicial, com mudanças sucessivas na equipa e a incerteza na viabilização de propostas. Fernando Medina tem o desafio de demonstrar que consegue superar estas contrariedades, quer na afirmação política mesmo no seio do Partido Socialista, quer na reconstrução de uma equipa capaz de concretizar o seu programa.

À oposição cabe interpretar a situação e apontar as fragilidades e eventuais inconsistências decorrentes das mudanças verificadas na Câmara e na Assembleia Municipal, bem como escrutinar a capacidade da maioria socialista para cumprir o seu programa e as promessas anunciadas. Trata-se de uma oportunidade para a oposição se afirmar com uma outra visão de cidade e com alternativas que contrastem pelo conhecimento, consistência e estabilidade.