O recuo de António Costa

Parecia que tudo ia mudar no PS e também nas eleições para a Câmara de Lisboa. Mas não.

candidatando-se à liderança do partido socialista, antónio costa faria o seu dever. não se pode estar sempre a admitir a hipótese de desafiar uma liderança e, depois, não o assumir. as consequências podem não ser as que se desejam mas, às vezes, é assim.

quando aqui escrevi sobre o tema, na semana passada, ainda portugal não tinha ido ao mercado primário e ainda ninguém no ps tinha feito declarações sobre congressos ou sobre lideranças. e escrevi que estava a chegar a hora da clarificação nesse partido. aliás, como referi na altura, a ‘caixa de pandora’ foi aberta por antónio josé seguro, quando recordou a pedro passos coelho uma frase de alguém do psd, dita em 2011, segundo a qual passos coelho perderia a liderança do partido se não provocasse eleições legislativas. e como se sabe, antónio josé seguro começou a falar também em eleições gerais antecipadas…

se se candidatasse ao ps, antónio costa enfraqueceria, objectivamente, a sua candidatura a lisboa. mas, às vezes, a vida põe-nos em estradas que temos de percorrer, mesmo não sendo essa a nossa vontade. aconteceu-me a mim em julho de 2004. também poderia acontecer a antónio costa. mas não era isso que o deveria ter impedido de avançar.

como é óbvio, tudo o que se está a passar no ps representa uma pausa para o governo. mas a situação do país é tão difícil que tal não aligeirará o trabalho e as dificuldades de pedro passos coelho e do seu executivo. no entanto, uma crise política na área do governo – salvo hecatombe imprevisível – saiu da agenda. mesmo da agenda daqueles que a desejavam.

a ida aos mercados

o balanço da ida aos mercados incomodou uns poucos mas alegrou muitos.

em minha opinião, esse balanço é, obviamente, muito positivo. diga-se o que se disser, aumentou muito a credibilidade externa de portugal.

impressionou-me, sobretudo, o nível da procura, seis vezes superior à oferta. por muito que se use o argumento de que o risco foi amortecido, porque a operação foi sindicada por quatro bancos, é óbvio que eles não são responsáveis por esse nível de interesse na compra de dívida portuguesa. aliás, se a credibilidade não existisse, com quatro ou com oito bancos não apareceria ninguém.

o mesmo se diga do ‘apoio’ do bce e da importância das posições que mario draghi tem assumido na garantia dos riscos das dívidas dos países objecto de intervenção externa. o primeiro responsável do banco central europeu já deixou clara essa opção há uns bons meses – e, de lá até agora, não teria sido possível, nem à irlanda, nem a portugal, tomar esta decisão de regresso ao mercado primário.

agora é preciso olhar para a economia? sem dúvida! o choque está a ser enorme, mesmo brutal. há muitas e muitas lojas a encerrarem. há cidades, capitais de distrito, não muito longe da capital, onde se vêem ruas inteiras com as lojas de portas fechadas. santarém é um exemplo. há, no centro de lisboa, centros comerciais só com dois ou três estabelecimentos ainda em funcionamento. e há poucos meses todos estavam abertos.

no dia em que escrevo este artigo, foi publicada em diário da república uma resolução do conselho de ministros sobre o ‘programa valorizar’, com recursos da ordem dos 280 milhões de euros e muito virado para as micro e pequenas empresas com importância no tecido regional local. virado, portanto, para a coesão territorial. esse programa integra uma linha de financiamento do bei. o ministro da economia, álvaro santos pereira, foi encarregue de dinamizar e concretizar este processo, em articulação com outros ministros.

a resolução produz efeitos à data da sua aprovação, 6 de dezembro de 2012. importa é que as candidaturas abram depressa e que o programa seja devidamente divulgado. numa economia tão carecida de liquidez, é necessário que o governo faça maior divulgação dos vários programas que estão em funcionamento, desde o ‘compete’ ao ‘estímulo xii’ – e agora este –, e que são desconhecidos de muitos que deles poderiam beneficiar.