Turismo, formação e emprego

A precariedade do emprego no setor do turismo pode ser justificada pela sazonalidade da atividade em determinados destinos, mas é de salientar que em grande parte dos casos o que existe é uma desvalorização do trabalho que assenta na contratação de mão de obra ‘barata’ ou ‘gratuita’, especialmente na hotelaria e na restauração

A Organização Mundial do Turismo (OMT) celebrou o Dia Mundial do Turismo 2019 com o tema Turismo e emprego: um futuro melhor para todos. Que o turismo é uma atividade económica em amplo desenvolvimento em todo o mundo, e, portanto, geradora de emprego e de receitas, é por todos sabido. No entanto, e apesar do crescente número de graduados em turismo, esta é uma atividade que ainda regista um grande défice de mão de obra qualificada e orientada para as exigências do mercado e que, ao mesmo tempo, enfrenta o problema da baixa remuneração, com contratos precários ou inexistentes. 

A precariedade do emprego no setor do turismo pode ser justificada pela sazonalidade da atividade em determinados destinos, mas é de salientar que em grande parte dos casos o que existe é uma desvalorização do trabalho que assenta na contratação de mão de obra ‘barata’ ou ‘gratuita’, especialmente na hotelaria e na restauração. A precariedade do emprego passa igualmente pelas diferenças salariais entre homens e mulheres. De acordo com dados da OMT, em média, as mulheres têm um salário 25% menor do que os homens. Em Portugal, o emprego no setor também é influenciado pelos estágios curriculares não remunerados, que embora sejam fundamentais para uma formação global e orientada para o mercado, condicionam o emprego e a valorização dos recursos humanos.

Apesar das dificuldades sentidas e do anteriormente exposto, de acordo com a OMT, o emprego no setor do turismo cresceu 3 vezes mais do que outros setores, acompanhando o crescimento da atividade turística no mundo, criando 10% do emprego a nível mundial. Dada a sua importância, o turismo foi incluído no Objetivo 8 para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, da ONU, pelo seu potencial de criação de postos de trabalho, de desenvolvimento das culturas e dos produtos locais. A declaração dos líderes do G20, em junho de 2019, em Osaka, também ressaltava o contributo do turismo para o crescimento económico mundial e para o desenvolvimento sustentável e inclusivo, apontando para a necessidade de apoio à criação do emprego de qualidade e ao empreendedorismo, especialmente para os jovens e mulheres.

Assim, e atendendo ao grande número de jovens que em Portugal entram todos os anos no mercado de trabalho, oriundos das várias instituições de ensino que formam profissionais altamente qualificados, é urgente que os stakeholders do setor unam esforços para que os profissionais do Turismo vejam o seu trabalho respeitado, valorizado e justamente remunerado, contribuindo para a consolidação dos padrões de excelência desta indústria.

*Diretora dos Cursos de licenciatura e mestrado em Turismo da Universidade Lusófona do Porto