Sánchez olha à direita para evitar mais um impasse

Se os socialistas sonhavam com uma maioria, hoje estão bem longe disso. É muito improvável que consigam governar só com o Unidas Podemos.

Os espanhóis vão às urnas este domingo, pela quarta vez em quatro anos, e é muito possível que o resultado seja um impasse, outra vez. Mas o primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, começa a olhar à direita, onde o não férreo do Partido Popular (PP) e do Ciudadanos a qualquer acordo com os socialistas se vai transformando num talvez – enquanto o Vox, de extrema-direita, continua a crescer nas sondagens.

O líder do Ciudadanos, Albert Rivera – cujo partido está numa marcada queda nas intenções de voto – fala num “oposição de Estado”, disposta a aprovar orçamentos de Estado com o PP, para que “não haja uma maioria com o [Unidas] Podemos e com os nacionalistas”. Já líder dos populares, Pablo Casado, sugere abster-se para permitir um Governo do PSOE, desde que os socialistas se comprometam a “não ultrapassar linhas vermelhas”, que apenas especificará depois das eleições.

Isto apesar da preferência declarada tanto do PP como do Cidudanos ser um Governo à direita, com o Vox. Contudo, as sondagens deste cenário está longe de ser provável – a subida da extrema-direita coincide com a descida do Ciudanos. Passaram de 13% para 9% das intenções de voto, após serem anunciadas eleições antecipadas, enquanto o Vox ganhou 5% das intenções de voto nesse período, segundo sondagens do Politico. “Tem que haver plano B, não podemos ir a terceiras eleições. Há que ter um acordo de Estado”, reconheceu Rivera. Por agora, Sánchez recusa a abertura à direita. Mas o primeiro-ministro em funções tem tomado uma posição cada vez mais dura em relação à Catalunha. Uma “desculpa” para fazer um acordo com o PP e o Ciudadanos, considera o líder do partido de extrema-esquerda Unidas Podemos, Pablo Iglesias.

 

À esquerda está complicado

Se os socialistas, sonham com uma maioria que lhes permita governar sozinhos, o sonho está muito distante da realidade. “Quem queira Governo, aqui está o PSOE, quem quer bloqueio têm onde votar, à direita e à esquerda”, declarou Sánchez, num comício do seu partido. Mas os espanhóis parecem não escutar os apelos de Sánchez, tendo em conta as sondagens do Politico, que mostram o PSOE em queda desde inícios de setembro – altura em que descarrilaram as suas negociações à esquerda, com o Unidas Podemos.

Confirmando-se as sondagens, os socialistas sairão das eleições com menos deputados do que começaram, enquato o Unidas Podemos fica praticamente na mesma – mas os resultados de abril já tinham sido uma brutal derrota para o partido. Arriscam não conseguir governar só os dois, mesmo que queiram: As sondagens do El País dão 116 deputados ao PSOE e 36 ao Unidas Podemos, longe dos 176 deputados necessários para uma maioria – e desta vez uma abstenção crucial dos independentistas parece improvável, com o caos na Catalunha.

 

Catalunha

Num país que em outubro teve o maior crescimento mensal do desemprego desde 2012 – mais 98 mil desempregados – o grande assunto continua a ser a Catalunha.

“Uma ameaça ao Estado de direito”, disse Rivera, mostrando uma pedra durante o debate de líderes partidários – referência às pedradas atiradas à polícia por manifestantes catalães. Face ao crescimento do Vox, o Ciudadanos quis reforçar as suas credenciais nacionalistas, acusando os Governos do PP de fazer concessões às comunidades autonómicas, passando-lhes competências a nível de educação, televisões públicas e sistema penal. Casado retaliou, criticando Rivera por ter dito que só a aplicaria o artigo 155 da Constituição – que suspende a autonomia das comunidades – “em casos extremos”.