Umas férias aqui, uma casa ali, umas amigas acolá

Uma mãe que abandona um bebé recém-nascido precisa é de tratamento psiquiátrico.

Ligo a televisão e vejo horas e horas sobre a sem-abrigo que abandonou o bebé que acabara de ter. Vejo que poderá ser acusada de tentativa de homicídio voluntário, que está a ser ouvida pela Polícia Judiciária, etc. Percebo que neste tempo de likes, o assunto mereça tanta atenção, mas uma mulher que abandona o filho que acabara de ter merece ser ouvida por psiquiatras ou por polícias? Tudo não passa de uma história muito triste, semelhante a muitas outras, e que, parece-me, quer fazer-se da mulher uma assassina sem desculpa, quando se sabe perfeitamente que quem tomou uma decisão dessas não está boa da cabeça. Não pode estar. Deixar um recém-nascido num caixote do lixo ou num ecoponto só de quem está mesmo muito mal e não tem qualquer noção do bem ou do mal. Parece-me, pois, que, ao lado da Polícia Judiciária, devia estar alguém ligado à psiquiatria. É óbvio que a PJ deve apurar todos os contornos desta história – quem é o pai, se este pode ficar com a criança, se durante a gravidez teve ajuda dos serviços sociais, etc. -, mas prender uma pessoas destas é que não faz qualquer sentido. Deve, sim, ser levada para um hospital psiquiátrico, onde terá de ser vigiada. A Justiça decidiu o contrário e a mãe do bebé abandonado foi levada para uma cadeia até ser ouvida por um juiz. Enfim…

O bebé do lixo, como ficou conhecido, tirou o protagonismo à grande figura do século XXI, no que a Portugal diz respeito. José Sócrates, antigo primeiro-ministro, que tinha um ordenado simpático enquanto desempenhou essas funções, mas que não lhe dava para pedir 300 mil euros a um banco, por exemplo, voltou das ondas da Ericeira para surfar os microfones e câmaras televisivas à porta do Tribunal Central. O homem lembrou-se agora que a sua mãe herdou um milhão de contos – cinco milhões de euros – e que foi essa verba que lhe permitiu levar uma vida de marajá. Não sei de é de rir ou de chorar.

Mas vamos ao seu lado de génio, do mal, é certo. Sócrates tem um amigo que lhe dava milhões de euros para ele – antigo ministro do Ambiente, que licenciou o Freeport, e ex-primeiro-ministro, cujos negócios que geriu davam para encher vários jornais – os gastar à vontade. Umas férias aqui, uma casa ali, umas ajudas a umas amigas acolá, tudo à grande e à francesa. Sócrates, não descobriu uma mina, inventou-a! E quem é que a registou como sua? O amigo Carlos Santos Silva, que, tudo o indica, vai ser o culpado dessa descoberta, pois o ouro encontrado, uma pequena parte, calcula-se, já desapareceu na bondade de Sócrates.

O antigo governante tem ainda outro grande mérito: alimentou e apaparicou uma corte que lhe foi fiel quase até ao fim. Muitos continuam no poder e assobiam para o lado, dizendo que nunca souberam da descoberta da mina socrática. Extraordinário! Eu amanhã vou aparecer de Ferrari junto dos meus amigos e eles ainda vão pensar que eu tive tanta sorte como José Sócrates: que descobri um primo e um amigo dos tempos de escola que já não via há muito e que decidiram oferecer-me o famoso bólide. Como é que eles arranjaram o dinheiro é que eu não sei, mas que o Ferrari é fantástico disso não há dúvidas.

Neste filme ficcionado aparece ainda um juiz com corte de cabelo à Comporta, leia-se ninho de cegonhas, que, segundo vários testemunhos, não percebe como é possível as pessoas não entenderem que um político pode ter amigos ricos. Se isto não dá um filme o que dará?