Banca lucra quase 6 milhões por dia

Os quatro maiores bancos apresentaram lucros de mais de 1,5 mil milhões nos primeiros nove meses do ano. A contrariar está o Novo Banco, que apresentou perdas de 572 milhões.

Os quatro maiores bancos (Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI e Santander Totta) lucraram mais de 1,5 mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Feitas as contas, dá quase seis milhões de euros por dia. Os resultados dos grandes bancos a operar em Portugal variaram entre 253,6 milhões e os 641 milhões de euros.

Desta vez e, ao contrário do que tem sido habitual, a Caixa Geral de Depósitos foi o campeão dos resultados ao apresentar um lucro de 641 milhões de euros até setembro. O primeiro lugar do ranking era até aqui ocupado pelo Santander Totta. O banco público registou um aumento dos resultados na ordem os 74% e a ajudar os resultados estiveram as vendas de operações internacionais, nomeadamente Espanha e África do Sul. No entanto, olhando para o resultado líquido recorrente, ou seja, excluindo estes negócios, os lucros ficariam pelos 481 milhões de euros. 

A margem financeira cedeu 2,2% para 852 milhões, caindo mais de 6% na atividade doméstica. O banco liderado por Paulo Macedo justifica a evolução neste indicador com a «conjuntura de taxas de juro». Já o produto bancário ficou praticamente estagnado nos primeiros nove meses, crescendo só 0,1% para 1,39 mil milhões, enquanto os custos de estrutura recuaram 3,7% para 700 milhões de euros, com quebras nos custos com pessoal e nos gastos gerais e administrativos (ver caixa ao lado).

A Caixa revelou ainda que foram contabilizadas, nas contas da atividade consolidada, imparidades para crédito, líquidas de recuperações, no valor de 4 milhões de euros. «A evolução das imparidades de outros ativos foi impactada pela reversão de 159 milhões de euros de imparidade associada à venda do Banco Caixa Geral (Espanha) e Mercantile (África do Sul) ajustando a valorização destes ativos resultante da provisão constituída em 2017 ao preço de venda alcançado no processo negocial», explicou o banco.

Logo a seguir surge o Santander que apresentou lucros de 390,6 milhões de euros até setembro, um aumento de 1,5% face a igual período do ano passado, altura em que registou um resultado de 385 milhões de euros. De acordo com o presidente executivo do banco, Pedro Castro e Almeida, estes números «estão em linha» com as previsões que tinham sido feitas. E deixa a garantia: «Está tudo encaminhado para que o banco atinja o melhor resultado anual de sempre da história do Santander em Portugal».

Os recursos de clientes ascenderam a 42,3 mil milhões de euros, um acréscimo homólogo de 5,3%, resultado dos crescimentos de 4,8% em depósitos e de 8,1% em recursos fora de balanço. Já no trimestre, os depósitos aumentaram 0,1%. Por sua vez, o crédito a clientes totalizou 40,4 mil milhões de euros, o que representa um decréscimo de 2,4% em termos homólogos, evolução que resulta da gestão das carteiras não produtivas. «Excluindo este fator, a carteira teria ficado praticamente inalterada, em termos homólogos», revelou a instituição financeira.

No terceiro lugar do ranking surge o BCP ao apresentar um lucro de 270 milhões de euros. Também para o presidente executivo da instituição financeira, estes valores representam os «melhores resultados dos primeiros nove meses de um ano dos últimos 12 anos», apesar do «contexto desafiante macroeconómico», revelou Miguel Maya. 

Os recursos de clientes ascenderam a 42,3 mil milhões de euros, um acréscimo homólogo de 5,3%, resultado dos crescimentos de 4,8% em depósitos e de 8,1% em recursos fora de balanço. Já no trimestre, os depósitos aumentaram 0,1%, enquanto o crédito a clientes totalizou 40,4 mil milhões de euros, o que representa um decréscimo de 2,4% em termos homólogos, uma evolução que resulta da gestão das carteiras não produtivas. «Excluindo este fator, a carteira teria ficado praticamente inalterada, em termos homólogos», revelou a instituição financeira.

BPI no verde mas cai

Já o BPI, ao contrário das anteriores instituições financeiras, registou uma quebra de 52% dos lucros face a igual período do ano passado, já que em 2018, os resultados foram influenciados por impactos positivos extraordinários de mais 160 milhões de euros. 

A instituição financeira liderada por Pablo Forero explicou que os resultados do ano passado foram influenciados pela «venda de participações na atividade em Portugal e que não se repetiram em 2019, e pela alteração da classificação contabilística do BFA no final de 2018, pelo que o resultado consolidado passa, a partir de 2019, a refletir os dividendos do BFA atribuídos ao BPI, quando anteriormente refletia a apropriação de resultados do BFA por equivalência patrimonial». 

O lucro líquido recorrente da atividade registada em Portugal alcançou os 152,8 milhões de euros, o que corresponde a uma redução homóloga de 7%, explicada por imparidades de 11 milhões de euros em unidades de participação que o banco tem há alguns anos em fundos de recuperação, subscritas por contrapartida da cedência de créditos àqueles fundos. 

Novo Banco em contraciclo

A contrariar esta tendência está o Novo Banco que registou perdas de 572 milhões de euros que compara com um prejuízo de 391 milhões no período homólogo do ano anterior. Segundo a instituição financeira liderada por António Ramalho, os prejuízos estão relacionados com a venda de ativos não produtivos. Ainda assim, o produto bancário comercial ascendeu a 631,2 milhões de euros, mais 11,5% em termos homólogos, influenciado pelo crescimento na margem financeira (mais 22,0%), o qual, diz, «mitigou a redução nos serviços a clientes (menos 3%)».

Já as operações financeiras foram negativas em menos 44,3 milhões de euros, reflexo das perdas decorrentes da atividade legacy (menos 55 milhões). Em oposição, realça que a estes resultados, as reservas de justo valor relacionadas com a carteira de títulos de dívida pública apresentaram um aumento de cerca de 400 milhões de euros. 

Por seu lado, os custos operativos apresentaram uma redução de 0,5%, situando-se em 362 milhões de euros, «reflexo das melhorias concretizadas ao nível da simplificação dos processos e da otimização de estruturas com a consequente redução no número de balcões e de colaboradores». 

 

Estrutura volta a emagrecer

 

Os resultados estão muito assentes na política comum levada a cabo pelos maiores bancos: estrutura mais pequena – ou seja, menos balcões e menos trabalhadores – e o reforço nas comissões. E apesar do BPI ter registado uma redução das comissões líquidas para 192,5 milhões – por ter deixado de beneficiar do contributo dos negócios de cartões, acquiring e banca de investimento, alienados em 2018 -, tendo em conta o mesmo perímetro de negócios, as comissões aumentaram 8,8%. 

Também o BCP viu as comissões a subirem 1,8% para os 519,1 milhões de euros, enquanto o Santander Totta aumentou este área de negócio em 6% para os 286,5 milhões de euros. O mesmo cenário repetiu-se no banco público com as comissões a fixarem-se em 374 milhões de euros, um aumento de 2% face a igual período do ano passado. 

Em contrapartida, as instituições têm vindo a apostar na redução do número de trabalhadores. Num ano, o Santander Totta fechou mais de 100 agências em Portugal e saíram cerca de 355 profissionais. Mas Pedro Castro e Almeida garante que «a grande parte das saídas têm sido por reforma antecipada». No final de setembro, a instituição financeira tinha um total de 539 agências e centros para o segmento de empresas no país, o que significa menos 118 balcões face aos 657 que existiam em setembro de 2018.

Também o BPI, no mesmo período, viu o seu número de balcões e trabalhadores cair. Em setembro, contava com 4.869 trabalhadores (em setembro do ano passado eram 4.898). Em termos de balcões, sofreu uma diminuição de 14, já que no final do terceiro trimestre de 2019 contava com 407 balcões.

O mesmo cenário repete-se na Caixa. O banco público contava no final de setembro com 7.421 trabalhadores, menos 391 face a igual período do ano passado (7.812). Já o número de agências reduziu-se em 12, passando a ter 510 balcões. De acordo com a instituição financeira, estes números «evoluem em linha com o plano estratégico».  

O BCP contraria esta tendência no que diz respeito ao número de trabalhadores. O banco contava com 7.259 trabalhadores em Portugal em setembro, mais 164 do que em dezembro de 2018. Quanto a agências, em setembro, contabilizava com 526, menos 20 face ao final de 2018.