A importância do papel dos pais

Eexistem pais e mães que secundarizam a família e os filhos em benefício das suas vidas profissionais, das suas vidas privadas, chegando a colocar os filhos em estabelecimentos de ensino internos, desligando-se da sua educação. Ser pai e mãe nos tempos que correm não é nada fácil, sobretudo para quem não está disponível para dedicar…

«Se acham que a educação é cara, experimentem a ignorância».

 Derek BoK (Harvard University)

Nos últimos anos anos aumentou o número de casos associados à violência nas escolas portuguesas – que tiveram muito eco mediático. Violência entre alunos, violência entre jovens namorados(as), violência de professores contra alunos e até violência de alunos contra professores. 

Este tipo de violência tem assumido tais proporções e alarmismo que, em alguns sectores da sociedade portuguesa, se criou a perceção de que algumas escolas são um campo de batalha. Mesmo sendo um exagero afirmá-lo, é um problema que não pode deixar de ser abordado e enfrentado quer nas suas causas, quer nas suas consequências.

As famílias, as comunidades escolares, os poderes públicos e sobretudo os responsáveis governativos devem tratar este tema em relação com outras matérias – como a violência excessiva presente na sociedade contemporânea, desde as redes sociais às televisões, aos filmes no cinema, aos jogos de computador, às playstation, etc., etc. 

Em todos estes conteúdos, as doses de violência, zangas, ruído, etc., são elevadíssimas. 

Soma-se a tudo isto a desestruturação das famílias (há quem lhe chame um novo perfil de família contemporânea em detrimento da família clássica…), com falta de tempo para elas próprias (muitas gastam quase tanto tempo no trabalho como nos transportes públicos) e horários desconformes com os filhos, com dificuldades financeiras, com precariedade no trabalho. 

Mas também existem pais e mães que secundarizam a família e os filhos em benefício das suas vidas profissionais, das suas vidas privadas, chegando a colocar os filhos em estabelecimentos de ensino internos, desligando-se da sua educação. Ser pai e mãe nos tempos que correm não é nada fácil, sobretudo para quem não está disponível para dedicar tempo (sobretudo de qualidade) e fazer sacrifícios em prol da família e dos filhos. 

Aliás, está tudo montado para que um pai ou uma mãe presentes, dedicados e responsáveis sejam logo catalogados como conservadores, ‘pais galinha’, etc., etc. Um país como Portugal, que tem de ter a educação e a qualificação dos seus recursos humanos como uma prioridade, deve enfrentar este problema com equilíbrio mas também com determinação. 

Tendo presentes outras variáveis, como o envelhecimento da classe dos professores, a sua insatisfação e até algumas das suas reivindicações. Reforçando-se a importância e o papel dos professores nas escolas. Ao mesmo tempo valorizando-se o papel dos pais na família e em casa. 

Vivemos tempos muito complexos, cheios de contradições. Há muita liberdade para muita coisa, mas não a proporcional responsabilidade. O tempo das sociedades contemporâneas inclusivas e plurais é, ao mesmo tempo, o da falta de memória, de respeito, de desprezo pelo silêncio em favor do ruído, e de outras coisas que em nada contribuem para a normalidade da vida familiar e em sociedade. 

Em todo o processo educativo não faltam exemplos do que é preciso alterar. E até mais nos pequenos pormenores do que no domínio das macro questões. Ninguém é obrigado a ser pai ou mãe. Ninguém é obrigado a adotar e a responsabilizar-se por filhos, crianças, adolescentes. Aliás, são cada vez mais as pessoas que por opção assim o decidem. 

Mas aqueles que escolheram constituir família e ter filhos, podem dar o seu contributo, dentro e fora de casa, para que eles tenham todas as condições, não só para ser felizes, mas para serem educados e ‘criados’ com equilíbrio, com responsabilidade, com carinho e com perspetivas de virem a ser cidadãos realizados e responsáveis. 

Daí ser muito relevante o papel dos pais na educação dos seus filhos em família, em casa e na escola. Para isso, é necessário que os conheçam ‘verdadeiramente’, sabendo estar com eles, para cumprirem convenientemente a tarefa de serem pais. O papel destes, num quadro complexo, exigente e desafiante das sociedades contemporâneas, apela à observância de valores de vida e pilares estruturantes como o amor, a família, a liberdade, a responsabilidade, a segurança e a proximidade. Que devem se estimulados. E aqui entra a necessidade de se perceber a importância da educação diferenciadora, do ensino não público e da autonomia das escolas fora do circuito público.

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