Espanha. Sánchez enfrenta a sua vitória desastrosa

O composição do novo Parlamento pode obrigar o PSOE a negociar com o PP, enquanto o Vox canta vitória e os independentistas mobilizam.

As eleições deste domingo foram uma vitória desastrosa para o líder do PSOE, Pedro Sánchez, que ficou praticamente impossibilitado de governar com os seus aliados mais óbvios: à esquerda, o Unidas Podemos; à direita, o Ciudadanos. Este último partido foi tão castigado que quase desapareceu e o seu líder, Albert Rivera, decidiu afastar-se da política. Sánchez ainda se deparou com uma subida estrondosa da extrema-direita do Vox, bem como com protestos generalizados na Catalunha, onde venceram os independentistas da Esquerda Republicana Catalã (ERC).

“Do Estado espanhol não espero absolutamente nada”, garantiu ontem à TVE um manifestante de rosto tapado, um entre os muitos que inundaram as autoestradas entre a Catalunha e França – a mobilização pretende sobretudo apelar à comunidade internacional. Respondendo aos apelos do movimento Tsunami Democrático, cerca de mil carros foram deixados nas três faixas da autoestrada, tanto do lado espanhol, perto de Girona, como do lado francês da fronteira, deixando utentes presos em longas filas.

O cordão policial montado pela polícia francesa e pelos Mossos d’Esquadra – a polícia autonómica catalã – não foi a tempo de impedir milhares de manifestantes de chegar ao local do protesto, onde montaram barricadas. E prometem que o bloqueio durará pelo menos três dias.

“Pede férias do trabalho em pelo menos um dos dias. Tens de estar disposto a movimentar-te pelo território e, se puderes, passar a noite fora”, apelou em comunicado o Tsunami Democrático, pedindo que os manifestantes levassem roupa quente, baterias para o telemóvel, comida, saco-cama e tenda. É uma atitude “tenazmente não violenta”. “Não temos mais recursos que a confrontação para obrigar o Estado a sentar-se e negociar”, explicou ao La Vanguardia um dos presentes, o cantor Lluís Llach.

Madrid Entretanto, na Moncloa, sede do Governo espanhol, o primeiro-ministro em funções não sabe para onde se virar. Na noite eleitoral, Sánchez prometeu um “Governo progressista” – lido como um Governo com o Unidas Podemos –, mas a matemática parlamentar não está do seu lado. Um acordo com o Unidas Podemos é uma impossibilidade política. Juntos têm 155 deputados, quando precisam de 176. Dependem da abstenção dos independentistas – nada satisfeitos com a posição dura de Sánchez quanto à Catalunha. “Os resultados do fascismo são culpa exclusiva dele”, acusou Gabriel Rufián, dirigente da ERC.

Um acordo entre Unidas Podemos, PSOE e Ciudadanos também não resolve o problema. Juntos têm 165 deputados, graças ao descalabro dos centristas, que perderam mais de quatro quintos do seu grupo parlamentar, ferido de morte pelo crescimento do Vox e a recuperação do Partido Popular (PP). “Os sucessos são de todos, mas os fracassos de um só”, disse Rivera, anunciando a sua demissão. Agora, está tudo nas mãos do PP, de Pablo Casado. E os principais dirigentes do partido repetem o mote. “Sánchez deve sair para superar o bloqueio”.

Explosão nacionalista O PSOE foi o partido mais votado, mas o grande vencedor foi mesmo o Vox, que mais que duplicou a sua representação parlamentar, conseguindo 15,09% dos votos e 52 deputados e tornando-se a terceira força política em Espanha. Arrasou em Ceuta, venceu em Múrcia e foi a força mais votada em 62 das 179 freguesias de Madrid. Como seria de esperar, os espanholistas não foram tão bem-sucedidos nas regiões com forte presença independentista. Tiveram apenas 6,3% dos votos na Catalunha – ainda assim, um aumento de 75% na sua votação –, conseguindo dois deputados. E não conseguiram nenhum deputado nem no País Basco nem na Galiza.