Sánchez pergunta aos independentistas: “Que Governo querem?”

Depois das eleições de domingo, Sánchez necessita da abstenção da ERC como de pão para a boca.

Primeiro encontro, primeira nega da Esquerda Republicana da Catalunha ao PSOE para a investidura de Pedro Sánchez. Depois da reunião dos dois partidos, esta quinta-feira, o primeiro-ministro espanhol em funções deixou um aviso aos independentistas, dizendo que só o PSOE e o Unidas Podemos garantem o diálogo na Catalunha. Mas também falou pela primeira vez em “crise política” na região.

Depois das eleições de domingo, as segundas deste ano, Sánchez necessita de garantir a abstenção da ERC como de pão para a boca para ser investido como líder do Governo espanhol, caso se mantenha o não do Ciudadanos. Além dos 155 deputados já garantidos pela coligação entre PSOE e Unidas Podemos, Sánchez tem de reduzir os nãos à sua investidura e os 13 assentos parlamentares da ERC são essenciais para esse objetivo. Para isso, calculou ao milímetro as palavras que utilizou depois do encontro com a formação catalã. 

O reconhecimento de Sánchez, em conferência de imprensa no Palácio da Moncloa, Madrid, de uma “crise política” na Catalunha, em vez de uma “crise de convivência”, como denominou a situação na região durante a campanha, foi um exemplo da tentativa de aproximação à ERC – que sempre exigiu o reconhecimento da existência de um problema político por parte do Governo. 

“Somos as únicas organizações a nível nacional que apostam no diálogo dentro da Constituição” e do estatuto autonómico catalão, garantiu Sánchez, referindo-se ao PSOE e ao Unidas Podemos. “Somos as duas únicas forças que aspiram a superar esta crise política”. Ou seja, se a ERC não se abstiver, o líder do PSOE dá a entender que um novo impasse político poderá fortalecer forças hostis da direita e da extrema-direita, que não estão dispostas a dialogar com os independentistas. “Que Governo querem?”, perguntou. 

Ao unir o PSOE ao Unidas Podemos na questão catalã, Sánchez faz a narrativa contrária à do período eleitoral, no qual endureceu o tom contra os independentistas. Há bem poucos dias, Sánchez vincava os “mundos de diferença” entre o PSOE e o Unidas Podemos em relação à crise na Catalunha. Mas esta quinta-feira já falava em desbloquear “a crise de governabilidade”, justificando a coligação com o conjunto liderado por Pablo Iglesias – concretizada em apenas 48 horas. “Um acordo histórico”, afirmou Sánchez, apelando à “responsabilidade” de todos os partidos espanhóis, exceto o Vox. 

Em comunicado, antes do reconhecimento do problema político na Catalunha por parte de Sánchez, a ERC afirmou que as conversações desta quinta-feira não deram “indício algum de que o Partido Socialista vá abandonar a via repressiva para enfrentar o conflito político existente entre a Catalunha e o Estado”. “A aposta da Esquerda Republicana é a resolução política do conflito”. 

Os catalães reconheceram a necessidade de se manterem as negociações em aberto. A solução política reclamada por si reside no exercício do direito da autodeterminação – referendo legal à independência – e na libertação dos líderes políticos catalães, condenados pelo Supremo Tribunal no mês passado. A entrada do Unidas Podemos no Governo deu-lhes esperanças nesse sentido.