Jean-Claude Trichet defende criação de líder “imparcial” para presidir à Zona Euro

Ex-presidente do BCE alerta que “podemos vir a ter uma nova crise no futuro” caso não sejam respeitadas as regras europeias de controlo orçamental.

Jean-Claude Trichet defende uma “reflexão para a criação de um ministro das finanças para o euro”. O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) falava, em Lisboa, na conferência desta sexta-feira que assinala os vinte anos do euro, organizada pelo Banco de Portugal. Jean-Claude Trichet acrescenta que “o Eurogrupo e a Comissão Europeia não são suficientemente fortes para resolver questões relacionadas com a moeda única”, uma vez que os seus membros “têm dois trabalhos” e “acabam sempre a defender os interesses dos seus próprios Governos e países”. “Sou a favor de um ministro das finanças da Zona Euro, que possa aplicar as medidas necessárias e assumir um papel de imparcialidade”, algo que, admite, “não é fácil ao presidente do Eurogrupo”.

Destacando o percurso trilhado em duas décadas, Jean-Claude Trichet chamou a atenção para o projeto de criação da moeda única ser “uma conquista do processo de integração europeu”, que considera “um marco na história da humanidade”. O atual presidente do Instituto Bruegel defende uma visão a “médio/longo prazo para o euro”, que, segundo o dirigente, merece a total “credibilidade da comunidade internacional”, mesmo depois da crise financeira anterior a 2010, quando ainda presidia ao BCE (esteve no cargo entre 2003 e 2011). Jean-Claude Trichet recordou os momentos mais atribulados dessa liderança, confessando que, na época, foi necessário “ter muita resistência, ousadia e coragem”.

“Podemos vir a ter uma nova crise no futuro” Jean-Claude Trichet defendeu o aumento da convergência entre os estados-membros da Zona Euro e o respeito pelos princípios da governação económica estabelecidos nos anos que se seguiram ao resgate à Grécia. Caso as regras europeias de controlo orçamental não sejam respeitadas, o dirigente acredita que “podemos vir a ter uma nova crise no futuro”. Segundo Jean-Claude Trichet, as ferramentas que já existem – como o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), o Semestre europeu ou o Procedimento relativo aos desequilíbrios Macroeconómicos – “não podem ser colocadas de parte”, segundo Trichet.

 

Carlos Costa apela à solidariedade e responsabilidade dos países

O governador do Banco de Portugal abriu a conferência, insistindo em ideias-chave como “solidariedade” e “responsabilidade”. Para Carlos Costa, esta é a solução prioritária para o presente e futuro da União Monetária. O governador do Banco de Portugal apelou a uma aproximação entre os estados-membros, assente em ideias de “confiança mútua” e “compreensão”, das quais, segundo acredita, “vai depender o sucesso e o futuro” da moeda única. Carlos costa considera “o euro a face mais visível da vontade coletiva de 19 países que compartilham um destino comum e acreditam que juntos são mais fortes”. Apesar das conquistas já alcançadas, o governador do Banco de Portugal recorda como “a crise da dívida soberana trouxe à tona as fraquezas da Zona Euro”, ficando claro, nesse momento, “que era preciso tomar medidas decisivas e urgentes para garantir uma governação económica mais forte, uma melhor coordenação das políticas dos estados-membros e um setor financeiro mais sólido”. “A União Monetária precisa de mecanismos de estabilização para apoiar os países que enfrentam sérias dificuldades financeiras, salvaguardando a estabilidade e a coesão do grupo”, sublinha.