Campanha de luxo num país pobre

O PAIGC é «uma máquina de interesses», acusa José Mário Vaz. Ainda assim, o candidato do partido continua a ser o favorito nas eleições deste domingo na Guiné-Bissau.

Multiplicaram-se as críticas aos luxos demonstrados durante a campanha na Guiné-Bissau para as eleições deste domingo, num país em que cerca de 70% da população vive abaixo do limiar da pobreza e mais de 25% sofre de desnutrição, de acordo como o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.

As críticas são dirigidas em particular ao PAIGC, principal partido no país desde a independência, liderado por Domingos Simões Pereira. O candidato que se apresentou às eleições como favorito mostra «uma riqueza insultuosa», assegurou José Mário Vaz, Presidente da Guiné-Bissau, que falou ao SOL por email, na qualidade exclusiva de candidato. «O PAIGC está hoje na disposição de carros de luxo, enquanto os funcionários não são pagos», concordou o candidato independente Carlos Gomes Júnior, ou ‘Cadogo’, como é conhecido.

No país considerado o primeiro narcoestado africano pela ONU, a oposição chegou a acusar o PAIGC de estar envolvido no tráfico de droga. «Nunca me cruzei com o tráfico de drogas», respondeu Simões Pereira, acrescentando: «Os meios que apresentamos demonstram a minha grandeza e a do PAIGC».

Contudo, se o PAIGC é «uma máquina de interesses e apropriação de dinheiro do Estado», como descreve José Mário Vaz, importa notar que sempre foi o epicentro da política guineense: passaram por lá boa parte dos candidatos a estas eleições. Começando por ‘Cadogo’ – também foi acusado de corrupção quando era primeiro-ministro e líder do PAIGC. O mesmo sucede com o líder do principal partido da oposição, o general Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15 – resultado de uma cissão do PAIGC. Já o candidato do APU-PDGB, Nuno Nabian, que conta com o apoio do Partido da Renovação Social (PRS), ainda recentemente apoiava parlamentarmente o PAIGC. 

Aliás, o próprio José Mário Vaz, conhecido como ‘Jomav’, foi eleito Presidente como candidato do partido, antes de entrar em choque com a direção. «Domingos Simões Pereira e os seus rapazes não representam o PAIGC fundador da pátria. Está a destruir o partido e por isso saímos», garantiu José Mário Vaz.

Manutenção da paz
Um dos pontos de discórdia é a presença de uma missão de manutenção de paz da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na Guiné Bissau. O país tem um longo historial de guerras civis e golpes de Estado: José Mário Vaz foi o primeiro Presidente guineense desde 1999 a terminar um mandato sem ser derrubado. Se o objetivo da missão da CEDEAO era manter a paz, hoje em dia é alvo de críticas pela oposição, que a acusam de ingerência. «O Governo tem de investir na capacitação das nossas forças de defesa e segurança. Não é ir recorrer às forças estrangeiras», garantiu o líder do Madem-G15 à Lusa.

Quando a Guiné-Bissau teve durante alguns dias dois Governos, um do primeiro-ministro Aristides Gomes, do PAIGC, outro de Faustino Imbali, nomeado pelo Presidente e apoiado pela oposição, foi a CEDEAO que forçou Imbali a demitir-se. «Não podemos aceitar novos colonizadores», criticou José Mário Vaz. Já o antigo colonizador da Guiné-Bissau, Portugal, que apoiou o Governo do PAIGC, também foi alvo de críticas de ‘Jomav’: «O ministro dos Negócios Estrangeiros português [Augusto Santos Silva], que veio 36 horas à Guiné, opina sobre o nosso país».