Assalto ao Cofre Verde de Dresden é “um golpe de proporções épicas”

Quase em jeito de súplica, os responsáveis pelo museu lembram o “valor inestimável” das joias, receando que estas sejam desmanteladas pelos ladrões.

Mil milhões de euros foi a cifra avançada pelos jornais de todo o mundo nas notícias que davam conta de um espetacular roubo de joias históricas nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira, no museu Grünes Gewölbe (Cofre Verde, em português), na cidade alemã de Dresden. Na verdade, ninguém faz ideia do verdadeiro valor dos três conjuntos de joias do séc. xviii com diamantes e rubis que foram roubados do histórico castelo-palácio Residenzschloss da Saxónia. Marion Ackermann, diretora dos museus da cidade, falou num “valor incomensurável”, sendo muito difícil pôr um preço às joias, uma vez que a sua importância histórica supera grandemente o seu valor material. Foi o jornal Bild que avançou com o número, dizendo que as peças roubadas poderão atingir os tais mil milhões de euros. Adiantou ainda que se trata, “provavelmente, do maior roubo de arte desde a ii Guerra Mundial”. Em termos de antecedentes, foi lembrado o roubo ao Gardner Museum, em Boston, nos EUA. Este ocorreu há 30 anos e o prejuízo cifrou-se em cerca de 500 milhões de dólares.

O assalto foi levado a cabo por uma equipa de profissionais que sabia muito bem o que estava a fazer e que precisou de pouco mais de cinco minutos para se escapulir com um total de 37 peças. Ackermann confessou aos jornalistas que ficou em choque ao dar-se conta da brutalidade usada pelos ladrões. Em 1945, um bombardeamento das forças aliadas destruiu uma parte daquele que é um dos museus mais antigos da Europa, mas as grades de ferro forjado e aço e os vidros reforçados resistiram, garantindo a integridade do imenso tesouro. Ao todo, a coleção do museu criado em 1723 por Augusto, o Forte conta com um acervo de mais de quatro mil peças. O ministro-presidente da Saxónia, Michael Kretschmer, frisou que o assalto é um duro golpe para todo o estado, pois as joias exibidas no Grünes Gewölbe e o palácio são o reflexo de “séculos de trabalho árduo das pessoas da Saxónia”.

O Departamento de Polícia de Dresden divulgou imagens das joias roubadas e o vídeo das câmaras de vigilância, nos quais é possível ver dois ladrões em ação, depois de terem serrado o gradeamento de uma janela do rés-do-chão do lado da Rua Sophien. Cerca das 4h58 da manhã (hora local), entraram na sala e, com uma marreta ou machado, partiram as vitrinas, mas, ao invés de se fixarem nas joias mais famosas, escolheram aquelas peças que podem ser desmanteladas e descaracterizadas para serem posteriormente vendidas. Assim, o alarme não se prende apenas com o roubo, mas com os receios de que as joias estejam perdidas para sempre.

Em declarações à BBC, a Art Recovery International, entidade que se descreve como uma força que opera nos bastidores do mundo da arte, fez notar que museus como o Cofre Verde “estão sitiados por bárbaros gangues de criminosos que derretem ouro e desmantelam em pedaços joias com pedras preciosas, sem o menor respeito pela sua importância como património cultural”. O fundador da empresa, Christopher Marinello, vincou que o assalto ao museu de Dresden foi “um golpe de proporções épicas”.