O jovem que deitou a mão ao Prémio Valmor

Ligado à alta sociedade e com apenas 29 anos, João Maria Veiga já teve negócios na área da restauração e gere quatro guest houses – uma delas é no antigo Clube dos Empresários. 

A história do Palacete Viscondes de Valmor, em Lisboa, tem dado voltas e voltas. Entre respostas da Câmara Municipal de Lisboa, que anunciavam um processo de encerramento quase finalizado, e pareceres da Direção-Geral do Património e Cultura (DGPC) – a chumbar as obras feitas no antigo Clube dos empresários –, o certo é que o negócio continua a funcionar.

Classificado como Imóvel de Interesse Público, o edifício transformou-se numa das quatro guest houses da empresa Dear Lisbon Houses, abertas por João Maria Veiga. Com apenas 29 anos, o jovem já foi sócio da marca de óculos FORA – uma marca portuguesa – e sócio do restaurante Boca Café, nas Galerias de São Bento, perto da Assembleia da República.

As raízes do empresário parecem, soube o SOL, contar muito para a sua evolução enquanto profissional. É que João Maria Veiga é filho de João Mário Veiga, conhecido guitarrista que divide o palco com a fadista Kátia Guerreiro desde que esta começou a sua carreira, e filho de Filipa Castro Martins Veiga, da família Mendia Castro. Aliás, a família Mendia Castro pertence ao patamar da alta sociedade, sendo conhecida das revistas cor-de-rosa, quer pelos negócios que detém na área da restauração ou imobiliária, quer pelos sítios que frequenta. 

Agora, João Maria Veiga dedica-se ao setor hoteleiro, mas já deu uns passos na restauração – abriu um restaurante em 2016 em parceria com Pedro Seabra. Amigos de infância, conheceram-se por causa do fado: o pai de João Maria Veiga é guitarrista e Pedro Seabra começou a cantar fado desde cedo. Aliás, este amigo do responsável pelo Palacete Viscondes de Valmor participou recentemente num programa de televisão para tentar a sua sorte na área da música. E Pedro Seabra pertence também ao seio da alta sociedade lisboeta – é filho de Catarina Flores e neto de João Flores, presidente da Junta Diretiva da Câmara do Comércio e Indústria Hispano-Portuguesa. 

A última grande festa da família Flores mereceu não só destaque na imprensa nacional, como também na espanhola, que deram conta do 80º aniversário de João Flores. Uma festa restrita, onde estiveram convidados como Pinto da Costa, alguns membros da família Espírito Santo – Cristina Espírito Santo, ou Pedro Espírito Santo –, Bárbara Guimarães e Paulo Portas. Este evento teve lugar no restaurante italiano gerido pela mãe de Pedro Seabra, Catarina Flores, chamado La Trattoria – um dos restaurantes favoritos da elite lisboeta. Os convidados do aniversário de João Flores não ficaram apenas pelo jantar e foram ainda comer sardinhas ao bairro de Alfama. Segundo a imprensa, uma das ruas do bairro foi até encerrada por questões de segurança.   

Obras ilegais e encerramento na gaveta 

O SOL tem vindo a noticiar as obras ilegais feitas no início do ano, quer no interior, quer no exterior do Palacete Viscondes de Valmor. A última resposta da Câmara Municipal de Lisboa chegou em junho, dando conta de que o processo de encerramento estaria a ser finalizado. Certo é que o ano está quase a terminar e ainda é possível reservar quartos para passar noites na guest house.  O município informou na altura que «seria cessada a utilização do espaço e o cancelamento do registo como alojamento local». 

Já do lado da DGPC, a última resposta dada no início de novembro ao SOL indicava que, em julho, esta entidade, «emitiu um parecer desfavorável, essencialmente por deficiente instrução processual, relativo à legalização de trabalhos interiores efetuados […] para efeitos da instalação de um programa de alojamento local». 

Uma vez que se trata de um imóvel classificado, todas as obras feitas no interior ou na fachada – à exceção das de conservação – têm de ter um projeto que, obrigatoriamente, tem de ser submetido quer à DGPC, quer à Câmara Municipal de Lisboa para aprovação. 

Segundo um arquiteto contactado pelo SOL, muitas vezes os responsáveis pelos imóveis optam pelo caminho mais fácil: avançar com obras sem qualquer projeto e depois pagar uma multa, já que é o processo de aprovação de uma obra tem de passar por vários departamentos e pode arrastar-se durante meses. 

Neste caso, após o parecer desfavorável da Direção-Geral do Património e Cultura, a responsabilidade de atuação passou para a autarquia. Contactada várias vezes desde o verão, a Câmara Municipal de Lisboa não tornou a fornecer qualquer resposta.