Empresários afastam cenário de recessão a curto prazo

Mas apontam para incerteza a longo prazo e no caso de Portugal é destacado a falta de produtividade.

A esmagadora maioria dos setores e indústrias não espera uma recessão nos próximos seis meses. A garantia é pela Boyden num inquérito feito às empresas, mas ainda assim, indicam que a médio e longo prazo são vários os fatores a criar incerteza em relação ao futuro da economia, acrescentando que Portugal continua a ser marcado pela falta de produtividade. 

Segundo o inquérito – realizado nos EUA este outono – apenas 4% dos negócios espera uma recessão nos próximos três meses, enquanto 14% antecipa que será daqui a três ou seis meses.  Além disso, quase um terço (31%) prevê uma recessão daqui a seis meses a um ano. Mais de um terço (36%) espera uma recessão daqui a um ano e 41% diz ser provável daqui a dois anos. 

“Salvaguardando as devidas diferenças entre as economias norte-americana e europeia, e por acrescento a portuguesa, podemos dizer há alguns sinais de um abrandamento generalizado da economia – mas um abrandamento é diferente de uma recessão. Para já, o mercado de trabalho está forte. Por isso, a coisa mais importante é não deixar os receios originarem uma recessão”, afirma o managing partner da Boyden Portugal, Fernando Neves de Almeida.

E lembra que, nesta altura, a procura e consumo mantêm-se elevados, há muito capital no mercado, os lucros empresariais continuam positivos e muitos dos principais mercados estão próximos do pleno emprego. Uma recessão é improvável no curto prazo, mas no longo prazo há alguma incerteza económica.

Também o aumento do protecionismo – que poderá ser espoletado pelo crescente conflito comercial entre EUA, China e UE é considerado o principal risco para a economia, seguido de dificuldades no mercado financeiro e uma diminuição do crescimento a nível global.  “As tensões comerciais globais estão a criar níveis elevados de insegurança que estão a ter impacto no investimento empresarial”, diz por seu lado Robert Travis, managing partner da Boyden nos EUA e Canadá, acrescentando que “em especial, o impacto negativo da guerra comercial entre a China-EUA está a ser sentida pelos nossos clientes. A escalada das tarifas impactou a tomada de decisões no que diz respeito aos gastos de capital, e muitos clientes foram forçados a implementar mudanças custosas nas cadeias de fornecimento”.

De acordo com a Boyden, os líderes deverão preparar-se e ter uma estratégia, equilíbrio e talento que seja resiliente de forma a conduzir as organizações em tempos de maior incerteza. “Um mercado laboral forte e confiança dos consumidores poderão ser insuficientes para evitar uma recessão daqui a dois anos e por isso os líderes devem focar-se nas questões estruturais da economia e serem proativos em vez de reativos. E no caso da economia portuguesa a produtividade deveria ser o foco”, afirma Fernando Neves de Almeida. O responsável lembra, no entanto, que para mudar a produtividade é preciso aumentar salários, gerir melhor os recursos humanos na administração pública, flexibilizar a legislação laboral e, eventualmente, implementar sistemas de flexisegurança. “Mexendo nestas várias coisas em simultâneo, não tenho dúvidas de que a produtividade aumentaria”.