Grão-mestre condena ‘afirmações primárias’ de Rui Rio

Fernando Lima reage às acusações de Rui Rio. O líder do PSD falou em interesses ‘obscuros’ e disparou contra Montenegro e Pinto Luz. 

Grão-mestre  condena ‘afirmações primárias’ de Rui Rio

O grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) não gostou da forma como Rui Rio introduziu a maçonaria na luta interna do PSD. Em declarações ao SOL, Fernando Lima condena  «afirmações  primárias e antimaçónicas que já não fazem sentido nenhum no século XXI, sobretudo vindas de pessoas supostamente informadas». E mostra-se «disponível para conversar seja com quem for e para explicar o que é a maçonaria».

A resposta do grão-mestre do GOL surge depois de uma semana em que as ligações entre os políticos e a maçonaria marcaram a campanha interna dos sociais-democratas. 

Rui Rio já tinha falado em interesses «secretos e obscuros» e agora esclareceu que se referia à maçonaria. 

O tema acabou por ser um dos principais assuntos do debate, na RTP, entre Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. «Eles os dois são conhecidos como sendo da maçonaria», disparou Rui Rio, condenando «associações com um certo secretismo».

Luís Montenegro, que esteve envolvido na polémica com a Loja Mozart, voltou a garantir que não pertence à maçonaria e que nunca sofreu «nenhum condicionamento». Miguel Pinto Luz revelou que pertenceu à maçonaria «há mais de dez anos», mas saiu quando começou a exercer cargos públicos. 

Pacheco Pereira foi uma das primeiras vozes a alertar que o PSD estava a mudar e tinha ligações fortes à maçonaria. Quando Luís Montenegro tentou derrubar Rui Rio, no início deste ano, o ex-líder parlamentar garantiu, no programa Quadratura do Círculo, que as pessoas envolvidas nesse processo «estão todas ligadas à maçonaria».

O número de sociais-democratas ligados à instituição tem crescido nos últimos anos. Um elemento do GOL e militante do PS garante ao SOL que é inegável que «houve uma mudança» e que a maçonaria tem, hoje, «muita gente do PSD». Prova disso é que, quando o Governo de coligação PSD/CDS acabou com o feriado de 5 de outubro, o GOL discutiu a possibilidade de tomar uma posição a condenar o Executivo de Passos Coelho, mas acabou por não o fazer.

No PSD, são poucos os que assumem pertencer à maçonaria e também não é fácil encontrar quem queira comentar a polémica lançada por Rui Rio nas eleições internas.

Guilherme Silva, ex-líder parlamentar e antigo vice-presidente da Assembleia da República, admite que Rui Rio fez bem em lançar a discussão. 

«É verdade que a maçonaria se move por interesses e de forma oculta na área do poder e dos partidos políticos», diz ao SOL o ex-dirigente social-democrata. Guilherme Silva defende que «quem está na vida pública» devia assumir a sua ligação à maçonaria e considera que «o seu caráter secreto não é compatível com a vida democrática». 

É, porém, no PS que é mais visível essa ligação. Henrique Neto, ex-deputado socialista, tem sido uma das vozes a contestar o poder da maçonaria dentro dos partidos políticos. «Tem influência e muita, principalmente no PS», diz ao SOL.

Neto considera que Rui Rio «está cheio de razão» e recorda que na sua passagem pela política sentiu essa influência. «Tentam influenciar quando há a escolha de alguém para um cargo público. Combinam entre eles e aparecem várias pessoas a defender a mesma posição», diz. 

A discussão sobre se os políticos devem assumir a sua ligação a instituições como a maçonaria não é nova. O grão-mestre do GOL, numa recente entrevista ao i, defendeu que «os maçons não deviam ter receio de dizer que são maçons». Uma posição que já foi assumida por António Reis, João Cravinho e Fernando Nobre. Os maçons rejeitam, porém, que sejam obrigados a declarar essa ligação. 

Esta possibilidade esteve em discussão quando, em 2012, foi tornado público que Luís Montenegro tinha ligações à Loja Mozart, que pertence à Grande Loja Regular de Portugal (GLRP). O então líder parlamentar do PSDfoi apanhado no meio do escândalo que envolvia o ‘superespião’ e ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho, mas nunca assumiu ser maçom.