Liderança contestada no Montepio

‘Insatisfação permanente e níveis motivacionais baixos’ são algumas das conclusões do inquérito feito aos trabalhadores da instituição financeira da Associação Mutualista.

Liderança contestada no Montepio

A liderança do Banco Montepio está a ser contestada pelos trabalhadores da instituição. «Insatisfação permanente e níveis motivacionais baixos» são as principais conclusões do inquérito ao clima organizacional feito pela Comissão de Trabalhadores aos colaboradores da instituição financeira, a que o SOL teve acesso. A opinião é generalizada, com os trabalhadores a reconhecerem que existem deficiências de liderança, assim como a falta de uma definição clara e compreendida entre trabalhadores quanto à estratégia da instituição financeira. «Os trabalhadores são críticos nas respostas sobre o correto conhecimento e execução do plano de transformação e sobre a definição da estratégia», lê-se no documento,    que aponta o dedo à atuação da direção de gestão de pessoal «quanto à preocupação em capacitar os trabalhadores para atingirem as metas definidas».

Outro dos pontos críticos diz respeito ao nível de remuneração, com os colaboradores a classificarem a sua tabela salarial como «bastante insatisfatória» e a reconhecem que poderia haver melhorias em relação à possibilidade de conciliar a vida profissional com a pessoal. E, apesar do gosto que demonstram pelo trabalho que exercem, admitem que existe «insatisfação global no desempenho das suas funções» e que a «adequação dos postos de trabalho merece reparo».

Os trabalhadores da instituição financeira criticam também o «défice de comunicação interna» em relação à comunicação de assuntos importantes. Já em relação à preparação interna para que os trabalhadores tenham respostas adequadas em tempo útil, esta também surge com um nível baixo de classificação.

As conclusões do inquérito a que o SOL teve acesso indicam também fragilidades no que diz respeito à cooperação entre as diversas áreas, considerando «que se traduz em impactos negativos nos níveis de serviço prestados». Mas, apesar deste cartão vermelho, os trabalhadores reconhecem uma cultura de espírito de entreajuda  entre colegas e boas relações de trabalho. 

A relação com o acionista

Também a formação foi outro ponto avaliado, com os trabalhadores do Banco Montepio a garantirem que o «tema da formação e sobretudo as expectativas subjacentes, surge como fator bastante crítico», defendendo ainda que «a eventual progressão na carreira é percecionada como inexistente. As críticas vão mais longe e a maioria dos trabalhadores afirma que não existe reconhecimento das suas qualificações dentro da instituição financeira, resultante de ações de formação em que participaram.

Outro ponto que esteve em análise foi a relação dos bancários com o principal acionista.

Para os bancários, o facto de o Banco Montepio pertencer a uma Associação Mutualista «é motivador». No entanto, admitem que esse sentimento não aumentou nos últimos meses e que «existe motivo de preocupação quanto à forma como se sentem considerados». Ainda assim, garantem que estão comprometidos com o seu trabalho – aliás, esta é mesmo a melhor classificação das respostas do inquérito.

Quando questionados sobre o ambiente externo, e apesar de considerarem positivo o banco pertencer a uma associação mutualista, garantem que há deficiências ao nível da identificação dos objetivos do principal acionista para a atividade da instituição financeira. «As respostas vão no sentido de haver necessidade de a Associação Mutualista definir objetivos claros para o banco». Reconhecendo, no entanto, que «o concelho de administração se preocupa com a definição de metas e com o controlo adequado para atingir os objetivos e que têm capacidade para identificar os desafios do mercado», enquanto a comissão executiva «tem capacidade para implementar medidas adequadas para que o Montepio vença dos desafios do mercado».

Tal como o SOL já tinha avançado, a Comissão de Trabalhadores (CT) do Banco Montepio está preocupada com os resultados do inquérito interno para avaliar o clima organizacional do banco levado a cabo pela estrutura sindical e este foi um dos temas que já foi discutido com a administração da instituição financeira. «A CT aproveitou para expressar uma vez mais a sua profunda preocupação relativamente ao clima social interno. O inquérito promovido pela CT e cujos resultados foram entregues aos presidentes veio apenas comprovar o que havíamos transmitido ao longo dos últimos meses», referiu num comunicado.

O mesmo documento garantiu também que a administração do banco «mostrou-se preocupada e ficou o compromisso de apresentar medidas o mais urgentemente possível para colmatar algumas deficiências apontadas» e que algumas dessas soluções «estão em fase de ultimação para apresentação em breve».

Tal como o SOL avançou em julho, esta iniciativa mobilizou a maioria dos trabalhadores, ao contrário do que acontecia em inquéritos do passado. No questionário foram colocadas perguntas sobre se «o modelo de governo do Banco Montepio permite uma clara definição da estratégia», se «a missão, visão e valores do Banco Montepio são transmitidos de forma clara para toda a estrutura», ou até mesmo «se o conselho de administração garante a estabilidade e a visão de futuro para o Banco Montepio».

Foram também abordadas questões relacionadas com a satisfação no trabalho, motivação, comunicação, trabalho em equipa, formação, avaliação de desempenho e oportunidades e avaliação global.

Impasse na liderança

As conclusões deste inquérito surgem numa altura em que continua o impasse na liderança no Banco Montepio. O atual administrador do Banco Montepio e também presidente do Banco Montepio Crédito retirou o seu nome para ser o futuro CEO da instituição financeira. Ao que o SOL apurou, o atraso na avaliação da idoneidade e as exigências do Banco de Portugal levaram Pedro Gouveia Alves a pedir para não ser nomeado. Para o lugar estará agora indicado o nome de Pedro Leitão, cuja idoneidade já está a ser avaliada pelo Banco de Portugal. O SOL sabe que o regulador, para analisar o nome do futuro CEO, exige que os restantes lugares no conselho de administração sejam preenchidos (quer fazer uma avaliação coletiva e pretende saber qual será o destino de Dulce Mota, a CEO interina) e continua à espera que os estatutos sejam alterados.

Também o nome de Paulo Pedroso surge agora para ocupar o cargo de administrador não executivo pelas mãos do ainda presidente da Mutualista. A informação foi avançada pelo Público que revela que essa indicação foi feita na última assembleia geral extraordinária do Banco Montepio, que decorreu na quinta-feira.