Proibido chumbar

Há uns dias vi-me na contingência de substituir os azulejos de uma casa de banho. Contratei um pedreiro local, que executou um excelente trabalho, mas fez-se pagar como bem entendeu.

A ausência de concorrência, mais flagrante fora dos grandes centros urbanos, não nos deixa outra alternativa que não a de nos vermos obrigados a aceitar os orçamentos que nos são impostos.

O operário que me socorreu possuiu uma muito pequena empresa em que, para além dele, trabalham apenas mais duas pessoas. Disse-me que há meses que anda à procura de alguém para se juntar à equipa, mas não encontra ninguém disposto a trabalhar.

Mas confidenciou-me também algo bem mais preocupante: se daqui a dez anos eu quiser substituir de novo os azulejos, não vou descobrir ninguém que me execute essa obra.

Este é o retrato do sucesso escolar de que os abrilistas tanto se orgulham e não se cansam de apregoar aos sete ventos!

O que interessa é a glorificação de um ensino sem reprovações, em que todos os jovens são obrigados a permanecer na escola quase até à idade adulta, sendo indiferente que no final do ensino liceal os conhecimentos adquiridos ao longo da carreira de estudante sejam quase rigorosamente os mesmos dos que tinham quando a iniciaram.

Antigamente, no tempo da outra senhora, período agora designado oficialmente como  obscurantismo, quem não tinha aproveitamento escolar, e não deixava dúvidas de que jamais o teria, era encaminhado para as escolas comerciais e industriais, onde aprendia a arte de uma profissão.

Aqueles que não tinham queda para os estudos não eram abandonados à sua sorte, bem pelo contrário, eram preparados para enfrentar o futuro quando atingissem a maioridade, aprendendo um ofício que lhes garantisse a necessária independência financeira para constituirem família e não ficarem o resto das suas vidas dependentes da generosidade alheia.

Por isso o mercado de trabalho estava bem provido de mão-de-obra especializada, nomeadamente de pedreiros, canalizadores, electricistas, carpinteiros, serralheiros, mecânicos, e mais uma panóplia de tarefeiros que tanta falta fazem nos dias que correm.

Hoje, a realidade é assustadoramente bem diferente, pela simples razão de que a obsessão que os políticos, quase todos os que se têm passeado nos corredores do poder desde o advento da lV República, têm em provar as virtudes da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, conduziu a que nenhum jovem agora aprenda uma profissão técnica, saltando de imediato para o desemprego quando a Escola já não tiver mais nada para lhe oferecer.

O socialismo utópico, que nos procura convencer de que é possível uma sociedade sem classes, em que todos somos iguais, tomou de assalto os destinos da educação estatal, querendo inverter uma pirâmide natural, base da sustentação da vida em sociedade, fazendo desaparecer quem esteja destinado a servir.

Caminhamos para um País de licenciados, em que grande parte dos cursos oferece vagas em número muito superior às reais necessidades, factor que tem provocado que uma parte bastante considerável de quem termina o ensino superior não consiga descobrir um emprego compatível com o que aprendeu, havendo, no entanto, um aflitivo défice  de quem tenha conhecimentos suficientes para dar andamento a uma simples obra.

Vamos dispor de engenheiros e arquitectos à fartura, com capacidade para desenharem e idealizarem a construção de uma casa, mas não haverá um pedreiro para assentar os tijolos.

E com esta ânsia de mostrar ao mundo que Portugal está no topo do aproveitamento escolar, nivela-se o ensino por baixo, para que os mais fracos tenham oportunidade de obter notas mais satisfatórias, limitando-se, dessa forma, a aprendizagem daqueles que se apresentam mais dotados, porque vêem os seus esforços barrar com a obrigação dos professores prestarem mais atenção a quem não dá mostras de lutar por notas positivas.

Se mesmo que com toda esta generosidade continue a haver quem não aproveite as benesses que lhe são concedidas e insista em não estudar absolutamente nada, não há problema, acabam-se com os chumbos. Passa a ser proibido reprovar! Dominando ou não a matéria que lhes foi ministrada, todos têm o caminho livre para terminarem o liceu com aproveitamento.

Para tornar este cenário ainda mais sombrio, acresce que os maus alunos tendem a ser indisciplinados, dificultando o trabalho, quando não inviabilizá-lo, de quem escolheu como modo de vida a nobre tarefa de ensinar, e transformando as escolas em frequentes campos de batalha.

E estes alunos, uma vez dispensados da obrigação de continuarem a frequentar estabelecimentos de ensino, deparam-se com um quadro severo, atendendo a que, por um lado, apesar de terem sido forçados, durante anos, a marcar presença numa escola, nada aprenderam que lhes faculte o acesso à Universidade, e, por outro lado, também não receberam qualquer tipo de formação que lhes permita entrar no mercado de trabalho especializado.

Sem rumo, nem tão pouco com vontade de se fazerem à vida, rendem-se ao infortúnio de prolongarem a estadia no domicílio dos progenitores até que estes partam deste mundo, vivendo às suas custas, sem nada produzirem e, consequentemente, sem contribuirem para o apertado orçamento familiar. Além de mais, infelizmente com uma regularidade bem maior do que se imagina, fazem da vivência dos seus pais um verdadeiro inferno, por estes não estarem em condições de lhes satisfazerem todos os caprichos de que se julgam merecedores.

Uma vez órfãos, desprovidos da mama a que se habituaram, tornam-se dependentes do Estado, sobrevivendo graças a subsídios pagos pelos contribuintes, ou seja, por quem trabalha e tem os seus impostos em dia.

É esta a Escola de Abril, aquela em que ninguém chumba!   

 

Nota: A esquerda totalitária procura sempre fugir ao debate de ideias, tentando silenciar a voz daqueles que a enfrentam, porque, na verdade, tem consciência da utopia dos  mitos que apregoa e sente-se impotente em rebater o contraditório.

Vem isto a propósito de alguns comentários postados em artigos por mim escritos neste espaço, em que, por via da minha condição militar, procura-se justificar a ilegalidade dos meus escritos.

Só por ignorância ou má-fé é que se pode advogar o princípio de que um militar na inactividade do serviço, e em particular na situação de reforma, está impedido de se exprimir livremente, na mesma senda dos restantes cidadãos.

O único juramento que fiz ao longo da minha existência foi o de defender a Pátria, se necessário com o sacrifício da própria vida. Hoje, a arma que me resta para cumprir este meu dever, é a da escrita, e dela jamais abdicarei!

Aqueles que não concordam com o que eu escrevo, e como amante da liberdade sempre defenderei esse direito que lhes assiste, contraponham os meus argumentos, de preferência com civismo, mas não tentem calar-me.

Trata-se de uma luta inglória, porque não vou desistir de denunciar os crimes praticados em nome da democracia.