Impasse entre Macron e sindicatos é para durar

A forma como Macron resolver o impasse com os sindicatos pode determinar o resto do seu mandato.

A luta entre os sindicatos franceses e o Presidente Emmanuel Macron continua. Esta terça-feira foi novo dia de manifestação nacional (o sexto da greve) para tentar forçar Macron a abandonar o seu projeto para as pensões de reforma, que será anunciado esta quarta-feira. O capital político de Macron está em jogo.

Segundo o Ministério do Interior, 339 mil pessoas participaram nas manifestações por todo o país. Já a Confederação Geral do Trabalho fala em 880 mil. O dia foi pacífico por toda a França (Lille, Bordéus, Rennes, Lyon e Paris), sem sinais de vandalismo nem violência policial. Os seis mil agentes destacados para as manifestações em Paris olhavam passivamente enquanto os manifestantes marchavam. Com medo do vandalismo na capital francesa, alguns restaurantes e outros estabelecimentos comerciais (principalmente bancos) encerraram as portas.

Os sindicatos apelaram a que trabalhadores ferroviários, médicos, professores e outros funcionários públicos participassem na manifestação de ontem. Apenas um em cada cinco comboios TGV funcionaram esta terça-feira e sete das oito refinarias de petróleo francesas encontravam-se paralisadas, segundo a CGT – o sindicato avisou que poderá haver falta de combustível. Mas é nos transportes públicos que a greve tem tido maior adesão: só duas das 16 linhas de metro da capital francesa estiveram totalmente operacionais na terça-feira.

Esta nova mobilização veio na sequência da greve geral da última quinta-feira, quando pelo menos 800 mil pessoas saíram à rua para se manifestarem contra o projeto do Governo. Este braço de ferro é um teste vital para a presidência de Macron, que prometeu reformar a França em direção a um modelo mais amigável para as empresas.

“O que está em causa vai muito além de uma simples revisão do sistema de pensões”, explicou Christopher Dembik, economista da Saxo Bank, à Reuters. “Para Emmanuel Macron trata-se de não perder a cara para o ‘velho mundo’, para as instituições que vilipendiou durante a sua campanha e para reafirmar a sua capacidade de reformar o país”.

A maneira como o Presidente de França sair deste impasse pode determinar o resto do seu mandato. “A possibilidade deste Governo conseguir reformar [França] está enfraquecida”, disse Gérard Grunberg, cientista político da SciencesPo, ao New York Times. “Ele [Macron] parece completamente incapaz de expandir a sua base política e social”, acrescentou Grunberg. “Não o vejo a recuperar popularidade. É uma grande fraqueza”.

Os sindicatos estão a apostar numa mobilização semelhante à de 1995, quando o Governo de centro-direita de Jacques Chirac e de Alain Juppé tentou reformar o sistema de pensões e foi obrigado a recuar depois de três semanas de paralisação. Além do silêncio de Macron, o Governo não mostra sinais de querer dar um passo atrás, tal como os sindicatos.

“Sim, é preciso reformar o sistema de pensões. Mas não é preciso destruí-lo”, sublinhou à France 2 Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, um dos sindicatos que lideram o apelo à greve. “O projeto de Macron é de cada um por si. O nosso é sobre solidariedade”. Esta terça-feira, antes do início da marcha em Paris, Martinez enumerou as condições da CGT para acabar com a greve: “Se o primeiro-ministro nos disser que pensou sobre isto, se eventualmente ele retirar o projeto e disser que está a trabalhar seriamente para melhorar o sistema atual, então não existe razão para a greve continuar”.

François, trabalhador sindicalizado que participou na manifestação em Paris, defendeu ao Libération que o sistema de pensões “funciona muito bem”. “Em qualquer caso, não nos foi mostrado o contrário”.

A França tem 42 regimes de reforma. Macron quer fundi-los num só gerido pelo Estado, argumentando que este sistema será mais justo para todos os franceses. Mas os sindicatos temem que a mudança obrigue a trabalhar muito além da idade da reforma – que é de 62 anos em França – para obter os mesmos benefícios do sistema atual.