O seu guia definitivo para a noite eleitoral britânica

Tudo o que precisa de saber para acompanhar uma das mais importantes eleições britânicas desta geração. O resultado definirá o rumo do Brexit.

Pela terceira vez em quatro anos, os britânicos enfrentam uma votação descrita como a mais importante desta geração – o Parlamento que sair das eleições de hoje definirá o rumo do Brexit. As duas grandes forças que disputam os votos de cerca de 46 milhões de britânicos são os conservadores, encabeçados pelo primeiro-ministro Boris Johnson, e os trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn.

Respetivamente, terminaram a campanha com 42,6% e 33,8% das intenções de voto, segundo uma sondagem YouGov para a Sky News. A previsão dá aos conservadores 339 dos 650 deputados da Câmara dos Comuns, face aos 231 dos trabalhistas – ou seja uma estreita maioria absoluta para Johnson.Contudo, não está nada decidido ainda: a margem de erro desta sondagem está entre 311 e 367. Johnson pode muito bem não ter maioria absoluta – e nos últimos quinze dias a sua vantagem sobre Corbyn tem-se estreitado cada vez mais.

Caso Johnson ganhe com maioria absoluta, é praticamente certo que o Reino Unido sairá da União Europeia antes de 31 de janeiro, o prazo limite para tal – o seu slogan foi “concretizar o Brexit”. Aliás, foi Johnson que negociou o atual acordo de saída, aprovado por Bruxelas, que prevê que a Irlanda do Norte – parte do Reino Unido – tenha regras comerciais diferentes do resto do país, para evitar uma fronteira física com a República da Irlanda – parte da UE.

No caso de uma (altamente improvável) maioria de Corbyn, a sua promessa é voltar a Bruxelas para renegociar um acordo que envolve uma união aduaneira com a UE. Depois, seria apresentado de novo aos britânicos em referendo: desta vez saberiam exatamente o que implicaria a saída. Um cenário mais provável é que os conservadores vençam sem maioria. Aqui, entramos numa terra de ninguém: Há o risco de um novo impasse e o resultado dependerá de alianças entre partidos ou deputados.

Sistema eleitoral imprevisível

Prever o resultado das eleições britânicas é sempre um esforço inglório, devido aos seus círculos eleitorais uninominais – ou seja, só há um deputado por círculo. Por exemplo, em 2017, no círculo eleitoral de Hastings e Rye, no sudeste do país, os conservadores tiveram 25668 votos e os trabalhistas 25322: o resultado foi um deputado conservador. O resultado total nessas eleições foi renhido, com os conservadores com 42,2% dos votos e os trabalhistas com 40%. Contudo, no final, os conservadores elegeram 48,8% dos deputados e os trabalhistas apenas 40,3%.

Comparativamente, em Portugal, os eleitores votam em listas de candidatos por distrito. Por um lado, o sistema britânico permite ao eleitor saber exatamente em que representante votou. Por outro, favorece os dois grandes partidos e os pequenos partidos regionais – capazes de reunir uma grande percentagem de votos nas suas regiões. Por exemplo, em 2017, o Partido Nacional Escocês (SNP) teve 3% dos votos e 5,4% dos deputados, enquanto os Liberais Democratas tiveram 7,4% dos votos e 1,9% dos deputados.

As últimas sondagens mostram um forte crescimento do SNP – prevendo-se que passe de 21 para 41 deputados – um pequeno crescimento dos Liberais Democratas de 12 para 15 deputados. Já os nacionalistas galeses do Plaid Cymru e os Verdes deverão ficar na mesma, com um e quatro deputados, respetivamente.

Outra variável nesta equação são os nacionalistas irlandeses do Sinn Fein, que de momento têm sete deputados, mas seguem uma política chamada abstencionismo. Ou seja, recusam tomar posse no Parlamento, em protesto contra a presença britânica na Irlanda do Norte – o número exato de deputados necessário para uma maioria dependerá do resultado do Sinn Fein.

Hora dos resultados

Se hoje à noite vai estar colado aos ecrãs, à procura de pistas sobre se o Reino Unido sai ou não – e como – da União Europeia, só obterá uma previsão eleitoral fidedigna a partir das 22h (no Reino Unido e Portugal continental), à hora de fecho das urnas.

Contudo, cautela: a essa hora terá apenas as sondagens à boca de urna, conduzidas pela Ipsos Mori. Estas sondagens são bastante mais precisas que as dos dias que antecedem as eleições – mas já falharam redondamente em várias ocasiões. Por exemplo, em 2015 previram os conservadores seriam o partido mais votado, mas sem maioria absoluta, que acabaram por obter. 

Por volta das 23h começam a sair os resultados preliminares das primeiras regiões a apurar os resultados  – algo que se poderá arrastar até por volta das 7h da manhã de sexta-feira. Entretanto, já poderá haver indicadores fortes para os resultados gerais, com base nos regionais. Por exemplo, se os trabalhistas perderem redutos no norte de Inglaterra, como Darlington, Workington ou Wigan – cujos resultados são esperados entre a 1h e as 2h da manhã – pode sinalizar uma pesada derrota para os trabalhistas – e uma maioria absoluta para Johnson.