O que será melhor para o PSD?

Rio, Montenegro e Pinto Luz: da última legislatura para esta muita coisa mudou.

Dos três candidatos que se apresentaram à liderança do PSD, qual convirá mais ao partido?

Um é recandidato (Rui Rio), outro é o opositor esperado (Luís Montenegro) e o terceiro é uma estreia (Miguel Pinto Luz).

Falando de Rio, julgo que muitos militantes têm em relação a ele mixed feelings: quase não fez oposição ao Governo durante quatro anos, mas na campanha eleitoral superiorizou-se a António Costa e acabou por ter um resultado que, embora mau, excedeu as expectativas.

Assim, a crítica segundo a qual teve um resultado eleitoral ‘desastroso’ não adere totalmente à realidade.

A ideia com que as pessoas ficaram foi outra – e menos má.

 

Relativamente a Luís Montenegro, parece um bocadinho ‘vendedor de banha da cobra’.

Parece um homem pouco autêntico, que está ali a desempenhar um papel.

E, enquanto Rio transmite a ideia de que seria melhor primeiro-ministro do que é líder da oposição, Montenegro projeta a imagem contrária: seria pior primeiro-ministro do que poderá ser líder da oposição.

Para fazer críticas todos os dias, para atacar Costa, para manter o Governo debaixo de fogo, Montenegro será bom.

Mas alguém o vê como primeiro-ministro?

Esta é a questão.

 

Resta Miguel Pinto Luz. Que tem a vantagem de representar sangue novo.

É um homem ‘chegado de fresco’, não tem o ar déjà vu que caracteriza a maioria dos barões do PSD.

E quem chega de novo cria expectativa, porque não se sabe bem o que pensa e o que vai dizer.

Claro que, num segundo momento, vai ter de corresponder à expectativa criada.

Para já, pelo pouco que vi, pareceu-me possuir algumas qualidades para o cargo.

Mas ninguém acredita que vá ganhar as eleições – pelo que apenas se apresenta para marcar posição para o futuro.

 

Vamos agora ao fundo da questão: ao posicionamento.

Critiquei muito Rio por se posicionar, na última legislatura, no centro-esquerda – pois aí está o PS.

O lugar natural do PSD seria no centro-direita.

Mas nesta legislatura o quadro não é bem igual.

Por um lado, deixou de haver ‘geringonça’; por outro, apareceu uma força de direita, o Chega, que apesar da sua pequenez mudou muita coisa.

Creio que, sem ‘geringonça’ – e por paradoxal que pareça -, o PS vai chegar-se mais à esquerda.

Não tendo à partida garantido o apoio do PCP e do BE, o PS vai ter de os seduzir, de lhes dar rebuçados, de fazer um discurso que justifique o seu voto.

E isso já começa a ver-se com os 800 milhões para a Saúde.

 

Quanto à direita, esse discurso vai ser muito assumido por André Ventura.

Se este for esperto, vai abocanhar com relativa facilidade o espaço do CDS.

O CDS revelou-se muito pouco inteligente ao longo dos últimos anos.

Temendo apresentar-se como um partido de direita, encostou-se ao centro e abriu espaço ao aparecimento de um homem como Ventura.

Se não fosse este, seria outro.

Como já escrevi, a política faz-se com coragem e não com medo – e o CDS teve medo, enquanto Ventura revelou coragem.

 

Mas, com um PS encostado à esquerda e um Chega a afirmar-se na direita, qual será o espaço ideal do PSD?

Julgo que talvez seja o centro-centro.

Já não o centro-direita, como eu sempre defendi, mas o centro tout court.

Até porque o PS vai sofrer a usura do poder – o que conduzirá fatalmente a uma transferência de votos para o rival; mas essa transferência será tanto mais fácil quanto o PSD estiver posicionado no centro e não encostado à direita.

E para este posicionamento o melhor líder será… Rui Rio.

Rui Rio será a melhor pessoa para roubar votos ao PS.

 

É preciso ver como a política vai evoluir – e estamos a raciocinar muito sobre os acontecimentos.

Mas uma coisa é certa: o quadro político mudou bastante da passada legislatura para esta, por muito que pareça estar igual.

A inexistência de ‘geringonça’ e o surgimento do Chega, bem como a enorme queda do CDS, compõem um quadro político novo.

O que era verdade na outra legislatura pode ser mentira nesta.

Enquanto o panorama não for claro, julgo que o PSD fará bem em manter Rio (que ainda por cima está no Parlamento, ao contrário dos seus adversários).

Mais para a frente se verá.