A democrata que se absteve no voto para a impugnação de Trump

Gabbard não duvida de que Trump seja culpado das acusações formuladas pelo seu partido, mas não apoia a sua remoção do cargo de Presidente porque, na sua ótica, o impeachment não deve ser “o culminar de um processo partidário, alimentado por animosidades tribais que dividiram gravemente” o país.

O voto para a impugnação do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Câmara dos Representantes, decorreu de acordo com as linhas partidárias. Mas houve uma congressista democrata, em 235, que se absteve num dos votos mais importantes dos últimos anos na Câmara dos Representantes.

Os democratas formularam dois artigos de impeachment: abuso de poder e obstrução ao Congresso. Ao ler o resultado da votação do primeiro artigo (foram votados separadamente) para a impugnação de Trump, a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, interrompeu-se ao aperceber-se de que uma congressista do seu partido tinha votado na terceira opção.

Foi Tulsi Gabbard, congressista do Havai e o único membro da Câmara dos Representantes a candidatar-se às presidenciais de 2020, que assinalou “presente” na votação de ambos os artigos do impeachment.

“Depois de fazer a devida diligência de revisão do relatório de impeachment, de 658 páginas, cheguei à conclusão de que não podia, em boa consciência, votar sim ou não”, justificou Gabbard em comunicado, recusando-se a prestar declarações aos jornalistas nos momentos a seguir à votação na câmara baixa.

Gabbard não duvida de que Trump seja culpado das acusações formuladas pelo seu partido, mas não apoia a sua remoção do cargo de Presidente porque, na sua ótica, o impeachment não deve ser “o culminar de um processo partidário, alimentado por animosidades tribais que dividiram gravemente” o país, como escreveu no comunicado.

As reações de congressistas democratas não se fizeram esperar. Uma das líderes do Esquadrão, quarteto de mulheres democratas progressistas na câmara baixa, Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova Iorque, criticou Gabbard por não ter tomado partido num dos dias mais importantes dos últimos tempos para a Câmara dos Representantes.

"O dia de hoje foi muito consequente. E não tomar uma posição, de um lado ou de outro, num dia com consequências tão graves para o país é bastante difícil. Somos enviados para aqui para liderar", criticou Ocasio-Cortez, citada pelo BuzzFeedNews.

Gabbard não é das políticas mais amadas das fileiras democratas e o seu voto "ao centro" não animou as hostes partidárias e enfureceu a internet. Rapidamente alastraram, na quinta-feira, hashtags contra a congressista havaiana. #TulsiIsARussianAsset, #TulsiCoward e #VotePresentLikeTulsi são alguns exemplos.

Logo a seguir ao seu voto, a candidata presidencial apresentou uma resolução a apelar à censura contra Trump por ter abusado do seu cargo, na esperança de enviar "uma mensagem forte a este Presidente e futuros Presidentes de que os seus abusos de poder" serão devidamente combatidos, deixando a "remoção de Trump do seu cargo aos eleitores".

Esta lógica não agradou a muita gente. O comentador da CNN Wajahat Ali usou o Twitter para atacar a abstenção de Gabbard: "O vosso lembrete semanal de que Tulsi Gabbard é uma terrível candidata democrata".

Mas mereceu elogios do lado oposto, da Fox News. "Tulsi Gabbard tem uma coragem de ferro para votar presente", afirmou Meghan McCain, filha do famoso senador republicano falecido John McCain.

Gabbard não é de convenções. Viajou para a Síria em 2017 para se encontrar com Bashar al-Assad e não fez muitos amigos no Congresso por isso, muito menos quando se mostrou contra a assistência norte-americana aos rebeldes sírios.

Nos debates das primárias democratas, a congressista em representação do Havai é das candidatas mais críticas em relação à política externa norte-americana, apelando ao fim das “guerras de mudança de regime”. Razão pela qual Hillary Clinton, uma das figuras mais poderosas do Partido Democrata, apelidou Gabbard como a preferida da Rússia nas primárias democratas.

Gabbard é uma figura complexa. Em 2016, apoiou Bernie Sanders em detrimento de Hillary Clinton. Mas também é conhecida pelas suas antigas posições contra os direitos LGBT, as quais já anunciou publicamente que se arrependera.

Os congressistas democratas Jeff Van Drew, de Nova Jérsia, e Colin Peterson, do Minnesota, foram os únicos democratas a votar contra ambos os artigos de impeachment. Van Drew, um novato nestas andanças, juntou-se ao Partido Republicano, depois de uma reunião com o chefe da Casa Branca, esta quinta-feira.