Boxing Day. Eis o dia mais fervilhante do futebol inglês

Bem mais de uma centena de jogos marca o Boxing Day, o dia mais fervilhante do futebol inglês.

Certa figura lusitana, supinamente vaidosa, acabada de cair em Londres com nulo conhecimento dos costumes locais, convenceu-se que o Boxing Day (26 de Dezembro) era o dia em que os ingleses se dedicavam ao boxe. Toleima, claro. “Box” de caixa e não de boxe, porque os criados das famílias burguesas, depois de terem passado o dia de Natal a trabalhar nos banquetes dos patrões, levavam os restos das iguarias para casa, na manhã seguinte. E, com tempo livre, dispunham-se a encher os estádios para gastarem a folga assistindo ao nobilíssimo jogo bretão.

Hoje, por toda a Velha Albion, que por cá apelidámos de Pérfida, mais de cem partidas terão lugar ao longo da tarde, desde as que contarão para a fascinante Premier League até às mais modestas do Championship, da League Two e da National League, e por aí abaixo, Non League Premier e Non League Division One que metem o amadorismo mais feroz.

Curiosamente, o Leicester-Liverpool, que põe frente a frente o segundo e o líder do principal campeonato, ficou para logo às 20h00, pondo outra vez o Leicester em causa depois de ter sido derrotado pelo Manchester City na última jornada. É altura para as raposas mostrarem se as uvas estão verdes ou não, trazendo para aqui o Jean de La Fontaine.

City, esse, que visita a armada portuguesa do Wolverhampton noutro dos jogos que poderão ser dos mais animados da época natalícia. Ao contrário do que se alimenta aqui neste rincão ensolarado, plantado à beira-mar, os ingleses não são se espapar à lareira carregando o colesterol de filhozes e cuscurões. O nosso campeonatozinho, tão pobrete e tão pouco alegrete, benza-o Deus, só volta no fim-de-semana de 4/5 de Dezembro, não vão os moços cansarem-se e os sempre bem-vindos brasileiros não poderem dar uma saltada à terra. Na ilha, jogam na quinta e voltam a jogar logo a seguir, no sábado, mesmo que isso signifique descansarem apenas na sexta. Questão de filosofia e prazer pela profissão. Ah! E respeito pelo público que, afinal, está mais disponível nesta época do que em nenhuma outra para dar uma saltada a ver o seu clube, ainda por cima quando joga a meio da tarde e deixa tempo para que todos regressem ao lar para jantar com a família. Sejam adeptos do Manchester United ou do Solihull Mors que, por falar nele, vai até Chesterfield, daqui a nada, pelas 15h00. Abençoados ingleses!