Irão, China e Rússia mostram poderio naval

A junção dos seus principais rivais geopolíticos certamente deixará Washington preocupada, numa altura de crescentes tensões com Teerão, após a saída do acordo nuclear.

Irão, China e Rússia, os três grandes rivais geoestratégicos dos Estados Unidos, começaram esta sexta-feira quatro dias de exercícios navais conjuntos. Os navios vão cobrir uma área de 17 mil quilómetros quadrados no oceano Índico e no Golfo de Omã, a porta de entrada para o Golfo Pérsico – por onde passa cerca de um terço de todo o petróleo transportado por via marítima. Segundo o almirante iraniano Gholamreza Tahani à Press TV, o objetivo é «melhorar a segurança do comércio marítimo internacional, enfrentar a pirataria e o terrorismo». Mas o exercício é visto sobretudo com uma demonstração de força e unidade destes países aliados – que poderá agravar ainda mais as tensões entre os EUA e o Irão.

Contudo, apesar de Irão, China e Rússia terem o interesse comum de enfrentar a influência norte-americana, a sua estratégia diverge no que toca ao Golfo Pérsico, disputado entre dois polos regionais rivais. De um lado o Irão, por outro a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU), aliados próximos dos EUA – mas que também mantêm uma forte relação comercial com a China. Afinal, trata-se do maior importador de petróleo do mundo – quase 50% do qual vindo no Médio Oriente. Como tal, a grande preocupação de Pequim é tentar diminuir a tensão na região, enquanto Moscovo toma um papel mais ativo – neste momento tropas russas combatem na Síria, apoiando o Governo de Bashar al-Assad.

 

Tensões e comércio

A China tem investido fortemente na sua marinha nos últimos anos: por exemplo, o seu primeiro porta-aviões, o Liaoning, entrou ao serviço em 2012. Além disso, a tendência será de aumento da intervenção marítima chinesa contra a pirataria, à medida que cresce a economia chinesa, tendencialmente exportadora – a China já comercializa três vezes mais carga por mar que os Estados Unidos. Contudo, a crescente presença chinesa certamente alarmará os EUA – sobretudo à medida que Pequim tenta afirmar no mercado do armamento no Médio Oriente, dominado pelos norte-americanos.

Tudo isto numa altura de enormes tensões na região, no seguimento da saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão, assinado em 2015. Em maio, dois petroleiros, um deles saudita, foram danificados por alegados atos de sabotagem do Irão, e um mês depois um drone dos EUA foi abatido em espaço aéreo iraniano.

A situação ficou ainda mais crítica quando um ataque com mísseis e drones devastou as principais instalações da Aramco, a empresa petrolífera saudita. Tanto Washington como Riade asseguraram que o ataque partiu do território do Irão – que negou as acusações – mas a retaliação nunca surgiu.