Likes, futebol, sindicatos e sociedades secretas

Qualquer jogador português que chegue a Espanha, ainda não se sentou para dar a primeira conferência de imprensa e já está a debitar palavras em castelhano, ou algo parecido. Olhando para os craques espanhóis que jogam há anos em Portugal, alguém conhece algum que tente falar português?

1.Há dias estava a discutir num grupo de amigos a história de o Instagram ter retirado o número de ‘gostos’ de cada fotografia publicada na rede para não criar complexos naqueles que têm menos likes. O mundo está assim: as pessoas perdem uma boa parte da sua vida nessas pechincheirices e depois ficam doentes por haver quem seja mais popular. Curiosamente, quem tem uma página oficial pode, até para efeitos publicitários, dar a conhecer ao mundo os seguidores que tem.

E é por isso que surgem tantas novas vedetas na televisão que são escolhidas de acordo com os fãs que têm nas redes sociais. É o mundo do mastiga e deita fora – muitas das novas atrizes e atores desaparecem de acordo com a audiência das redes sociais – e não se percebe como é que alguém pode ficar diminuído por aparecer o número de likes. É apenas sinal de que a educação que os pais dão aos filhos fica muito a dever e que estes não estão preparados para sobreviverem no mundo da futilidade de que se alimentam, pois acham importante ter muitos seguidores…

2.Os portugueses são um povo muito engraçado. Gostam de ficar bem na ficha e procuram ser muito modernaços e inteligentes. Veja-se o contraste com os espanhóis. Qualquer jogador português que chegue a Espanha, ainda não se sentou para dar a primeira conferência de imprensa e já está a debitar palavras em castelhano, ou algo parecido. Olhando para os craques espanhóis que jogam há anos em Portugal, alguém conhece algum que tente falar português? Só me lembro do treinador do Vitória de Setúbal, todos os restantes estão a borrifar-se para se expressarem em português.

3.Continuando no futebol, o que dizer desta guerra do Sindicato dos Treinadores portugueses contra os técnicos que não têm o nível mais alto para poderem treinar equipas da primeira divisão? O desporto tem copiado o pior da sociedade portuguesa, no que ao corporativismo diz respeito: antigamente, os médicos e advogados, por exemplo, tudo faziam para fechar os cursos a novos concorrentes. Podiam entrar uns tantos, desde que não fossem colocar em causa os interesses instalados. No futebol passa-se um pouco o mesmo: o Sindicato dos Treinadores fala contra aqueles que não têm o nível quatro, mas nada dizem sobre as interferências dos presidentes de clubes que tentam fazer eles próprios as equipas.

Mas no futebol tudo é ainda mais estranho pois os novos treinadores até são sindicalizados e são atacados pelos seus representantes. Estranho.

4.Se o futebol é um mundo à parte, o que dizer do Sindicato dos Jornalistas não se ter pronunciado sobre a polémica da RTP, onde a diretora foi acusada, no mínimo, de boicotar uma reportagem? Não seria de o Conselho Deontológico investigar de que lado está a razão? E qual o motivo para também não ter dito nada sobre o chumbo da ERC à nova direção do canal público? Estranho…

5.A história do PAN querer obrigar os políticos que são maçons ou do Opus Dei a confessarem a sua filiação ainda vai fazer correr muita tinta. Mas seria engraçado saber quem é quem e que interesses se cruzam entre a política e as sociedades secretas. Se as sociedades são secretas é porque não querem, obviamente, que se saiba o que lá é discutido. Ou alguém acredita que a rapaziada dos aventais e dos silícios procura o bem comum desinteressadamente?

6.E o que dizer de uma das histórias mais insólitas da semana? Um presidente de um instituição bancária, a Caixa Agrícola, que pagava dois mil euros limpos à mulher porque esta lhe dava «estabilidade emocional». Acredito que a sua presença fosse fundamental para as decisões financeiras que tinha de tomar…

vitor.rainho@sol.pt