Conversa fiada ou amnésia? OE acentua divisões no PSD

Montenegro e Marques Mendes criticam hesitação de Rui Rio em relação ao voto contra o Orçamento do Estado para 2020.

Conversa fiada ou amnésia? OE acentua divisões no PSD

Falta uma semana e meia para o Orçamento do Estado para 2020 começar a ser debatido na generalidade no Parlamento, mas Rui Rio ainda não revelou se o PSD vai ou não votar contra o documento. Esta demora já foi alvo de vários comentários durante o fim de semana, mas o presidente social-democrata desvaloriza a situação e diz que alguns dos seus adversários dentro do partido sofrem de “amnésia”.

No Twitter, Rui Rio partilhou o link de uma notícia que revela que o antigo líder do PSD Passos Coelho demorava mais tempo do que o atual presidente a dizer que votava contra o Orçamento do Estado. A acompanhar esta partilha deixou a definição de amnésia – “amnésia é a perda de memória que pode ser total ou parcial, constante ou episódica, temporária ou permanente dependendo das causas” – e uma provocação: “neste caso a causa será, provavelmente, um ato eleitoral”, escreveu o líder do PSD, uma clara referência às eleições internas. Recorde-se que os militantes do PSD vão decidir, no dia 11 de janeiro, se querem que Rio continue na liderança do partido. As alternativas são Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz.

Este comentário de Rui Rio surgiu precisamente depois de Montenegro ter desafiado Rio a pôr de lado a "conversa fiada e de politiquês" e a assumir o voto contra o Orçamento do Estado. "Eu sou daqueles que não precisava de ver o documento e hoje acho que toda a gente reconhece que eu tinha razão. Não é uma questão de desrespeitar, não é uma questão de radicalismo, não é uma questão de irresponsabilidade. Isso é tudo uma conversa fiada, isso é tudo conversa de politiquês", disse no sábado o candidato à presidência do PSD aos jornalistas em Barcelos, à margem de um encontro com autarcas.

Montenegro defendeu ainda que o PSD "não pode ter hesitações, não pode confundir as pessoas, não pode criar perceções erradas", desafiando Rio a assumir o voto contra o quanto antes. Esta hesitação, defende, "dá a entender que o PSD ainda admite viabilizar o Orçamento, que porventura ainda admitirá negociá-lo com o PS, quando todos os dirigentes do PS dizem que estão a negociá-lo à esquerda, com o PC [Partido Comunista] e o Bloco". “Qual é a dúvida do PSD? Não há dúvidas nenhumas. [Rui Rio] vai assumir, mais dia, menos dia, aquilo que é uma evidência”, atira Luís Montenegro.

Mas não foi só o candidato à liderança social-democrata a fazer pressão sobe Rui Rio. Também Luís Marques Mendes, no seu espaço de comentário na SIC, defendeu que “Rui Rio já devia ter anunciado o voto contra este Orçamento. Parece que está a hesitar”.

Na sexta-feira, Rio disse que a probabilidade de o PSD estar de acordo com um orçamento do PS “é muito escassa”. "Todos nós temos consciência de que a probabilidade de o PSD estar de acordo com um orçamento apresentado pelo PS, ao abrigo de um programa do PS, é muito escassa, mas convém ver o documento e argumentar o porquê de um não, por exemplo. E é isso que nós estamos a fazer", disse aos jornalistas.

"Eu não posso dizer assim: 'O orçamento vem de um Governo que não é do meu partido, logo eu sou contra'. Eu acho que isto não é forma de estar na política sinceramente", acrescentou Rui Rio, defendendo que todas as posições do PSD devem ser assumidas de uma forma sustentada.

Recorde-se que o Orçamento do Estado para 2020 vai ser debatido na Assembleia da República a 9 e 10 de janeiro e a votação final global está prevista para 7 de fevereiro.