Sue Lyon. A Lolita de Kubrick

Sue Lyon, que deu corpo à controversa Lolita de Stanley Kubrick, em 1962, morreu na semana passada. Estava afastada do grande ecrã há praticamente 40 anos e não tinha em boa conta a personagem criada por Nobokov.

Sue Lyon morreu aos 73, mas de certa forma ficou sempre com 14 anos, a idade com que Stanley Kubrick a transformou em Lolita, a controversa adaptação cinematográfica do livro homónimo de Vladimir Nabokov. A atriz, que estava há quase 40 anos afastada dos grandes ecrãs, morreu na passada quinta-feira, em Los Angeles. A notícia foi confirmada no sábado, mas as causas da morte não foram reveladas. Um amigo próximo da atriz acabou por contar ao New York Times que Sue estava há muito debilitada e que tinha morrido durante a noite, um dia após o Natal.

No filme de 1962, Sue Lyon é Lolita, uma adolescente de olhos vivos e jeito sedutor que se tornará no objeto de obsessão de um professor de literatura europeu, interpretado no cinema por James Mason. O forte pendor sexual de um filme protagonizado por uma adolescente, que dá vida ao romance proibido entre a quase criança Lolita e o homem mais do que maduro Humbert Humbert, contado por Nobokov no livro, fez correr muita tinta sobre os limites da arte e a pedofilia. Ainda assim, ou talvez também pela força da polémica, foi um êxito. Ela é a “ninfa perfeita”, afirmou Nobokov, que tinha dado o seu aval a Kubrick relativamente à escolha da atriz. Lyon, que não assistiu à estreia por, à data, ter ainda menos de 16 anos, tinha opinião contrária. Anos mais tarde, afirmou que a sua personagem era “neurótica e patética e só se interessava por si mesma”. 

Apesar da tenra idade, esta não foi a primeira incursão na representação de Lyon. Foi, aliás, em cima de um palco que Stanley Kubrick a descobriu, no espetáculo "The Loretta Young Show". 

Nascida em Davenport, no estado do Iowa (EUA), a 10 de julho de 1946, Sue era a mais nova de cinco irmãos. Ficou privada do pai desde cedo e a família vivia com dificuldades. Era muito bonita e a tez perfeita, o cabelo louro e o seu olhar claro fizeram com que a mãe, desde cedo, lhe reconhecesse potencial para viver da imagem. E foi em busca desse sonho que a família se mudou para Los Angeles, onde Sue começou a trabalhar como modelo, antes de Kubrick a escolher para o papel. Mais tarde, o realizador contou que foi tão censurado por ter feito o filme, dada a diferença de idades entre os protagonistas e a relação que mantém, que não teria avançado com o projeto caso imaginasse a avalanche com que teve que lidar após a estreia, lembra o Guardian. Um lamento que ficou imortalizado numa imagem: no dia da estreia de Lolita, em Nova Iorque, Sue foi fotografada a beber um refrigerante à hora em que filme estava a ser exibido, uma cena de inocência própria da idade e que tanto contrastava com a película que protagonizava.

Apesar da polémica, o filme abriu-lhe portas e a sua interpretação foi reconhecida. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Revelação e, cavalgando na onda do êxito da sua estreia no cinema, passou a trabalhar com alguns dos melhores cineastas dos anos 60, como John Huston, em "A Noite da Iguana", de 1964, ou em "Sete Mulheres", o último filme de John Ford, em 1966.

Pese embora o sucesso desses anos, foi ainda na década de 60 que Sue Lyons assumiu que gostaria que o seu caminho tomasse outro rumo: ao Pittsburgh Press, afirmou, numa entrevista dada em 1967, que gostaria de ser professora, de se casar e de ter filhos. Nunca foi professora, mas teve uma filha, Nona. E casou cinco vezes. Após o frenesim daquela década, foi-se afastando paulatinamente do ecrã. O último filme em que participou foi "Alligator: A Besta Sob o Asfalto", uma película de terror de Lewis Teague de 1980 em que interpretou o papel de uma jornalista.