Um PSD livre

O nosso problema é aturar um governo e um partido de oposição que tentam fazer o mesmo. Experimentemos, pois. Comecemos por mudar o PSD.

A cultura do Bloco Central deixou muitas sequelas no PSD.

Não se esgota  na ideia ou na memória de um governo a dois.

Este figurino só remanesce no espírito dos mais crentes nesse caminho porque para os demais soa a vacina.
Foi um período difícil, foi assumida uma responsabilidade conjunta em nome do país, mas a verdade é que não era necessário ser assim, não era preciso tanto.

A um e a outro dos partidos trouxe problemas particulares. Ao PS uma crise duradoura depois do rompimento. Ao PSD uma profunda mudança e o nascimento de um espírito alternativo.

A ambos o bloco central deixou amargos de boca.

Mas, para a análise do PSD, importa perceber como, apesar de tudo, esse espírito do Bloco Central consegue sugestionar alguns.

São os que querem um PSD bem comportado, hierático, atento, venerador  e obrigado.

Aqueles que se sentem um complemento do PS, os salvadores possíveis.

Contentam-se já com algum grau de colaboração, com uma silente cumplicidade.

Ora, por este caminho, nunca o PSD conseguirá voltar a ser o grande partido que foi, muito menos a ideia, a alternativa, a força que conquistou maiorias.

É simples e  popular a conclusão: amigos, amigos, negócios à parte.

O estado da arte da política em Portugal precisa de soluções de ruptura.

Acabou a época das bolas de naftalina.

Esta oficialização da opção pelo estatuto dos braços caídos confrange.

Parece não haver outra verdade senão a verdade oficial do  PS, parece não haver outra saída que não seja a esquerda mais ou a esquerda menos.

Qualquer dia a inibição é tão grande que ninguém dá um passo com receio de fazer Portugal morrer.

Ora, a verdade é que Portugal morre mas é de tédio, de enfado, de spleen, como Eça dizia.

Há uma cheia avassaladora de socialismo, de trocatintismo, de situacionismo e de conveniência.

A doutrina oficial é tão paralisante que se chega a escrever ser impossível ao PSD encontrar quem com ele consiga maioria e formar governo. Como se a política fosse filha da inevitabilidade.

Como se não fosse possível inventar caminhos e mobilizar vontades.

Como se não fosse possível vencer com um  pensamento claro e não tributário de outros.

Como se não fosse possível cortar e criar.

O PSD de hoje está confinado a uma corrente oficial que se reconduz à máxima: não me toques que me desafinas.
Felizmente há outras propostas no horizonte que nela se não revêem.

É social-democrata, o PSD? No meu entender é.

Não é obrigatório que seja limitado.

Quando foi maior, foi-o com gente que à direita e à esquerda o fez crescer e consolidou o seu apelo.

Quando incorporou novas ideias, quando não teve medo, quando não se limitou a ser sozinho.

É da sua essência ser livre e viver liberdade. Não se pode pôr na ordem. Não se pode subjugar.

Mais do que isso, é essencial ao país que isto não aconteça.

Hoje, o país desenha o despedimento de um poder que chegou ao seu limite mais orçamento menos  orçamento, mais habilidade menos habilidade.

E esse poder sabe que assim é porque qualquer funâmbulo sabe ter um limite.

Andar sobre o arame, é isso.

O nosso problema é aturar um governo e um partido de oposição que tentam fazer o mesmo.

Experimentemos, pois. 

Comecemos por mudar o PSD.