Légua, Maceda e Pequena, as focas que deram à costa

Receberam o nome das praias onde foram encontradas e estão a receber cuidados no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos, na Gafanha da Nazaré. De onde vieram? Ilhas britânicas são uma das hipóteses.     

Focas na costa portuguesa? Não é inédito, mas terem aparecido três num curto espaço de tempo, nos últimos cinco dias de 2019, desperta a curiosidade. Marisa Ferreira, responsável pelo Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM-Ecomare) na Gafanha da Nazaré, que trabalha no resgate de animais marinhos e onde as três estão a receber cuidados, explicou ao SOL que todos os anos aparecem focas-cinzentas juvenis na Península Ibérica, sendo mais comum surgirem na costa cantábrica e galega. Desta vez foram trazidas pelas correntes para Portugal.

Como é costume com todos os animais marinhos resgatados no CRAM-Ecomare, receberam os nomes das praias onde foram encontradas – a praia da Légua, em Alcobaça, a Praia de São Pedro em Maceda, em Ovar e a praia Pequena, em Sintra. A Légua, a Maceda e a Pequena estão ainda a recuperar e inspiram cuidados, tendo prognóstico reservado. Uma está com problemas pulmonares e ferimentos ligeiros, outra tem um ferimento com alguma gravidade numa barbatana e outra tem vários ferimentos pelo corpo, alguns graves. «Se a recuperação for bem sucedida o objetivo é devolver os animais ao habitat natural», diz Marisa Ferreira. «Assim que estiverem bem de saúde e sem medicação serão transferidos para um tanque para exercitar a natação e comer peixe na água. Será planificada a sua devolução assim que atingirem 40kg de peso (pelo menos 2 meses)».

De onde terão vindo? É um exercício de alguma suposição, mas como as colónias reprodutoras mais próximas são nas ilhas britânicas e na bretanha francesa, é provável que tenha começado aí a viagem. 

Os nascimentos  ocorrem durante o outono e o inverno e, passadas algumas semanas, estão por sua conta. «Normalmente são animais que após se tornarem independentes (são desmamados ao fim de 18-21dias) e iniciarem movimentos naturais de dispersão, acabam por apanhar correntes que os deslocam até às nossas costas. Alguns, um pouco mais inexperientes, acabam por ficar mais debilitados e precisam de serem resgatados», explica Marisa Ferreira.
Foi um final de ano com mais trabalho no CRAM, mas a atividade não se fica por aqui. Em 2019 resgataram 377 animais, sendo os problemas mais comuns traumatismos. Também veem casos de ingestão de plástico, mas são residuais e raramente é causa de entrada no centro de recuperação.

Atualmente trabalham no centro – uma parceria entre a Universidade de Aveiro e a Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem – 15 pessoas, uma equipa multidisciplinar que inclui biólogos, enfermeiros e médicos veterinários, recorrendo também a peritos internacionais em caso de necessidade, para ajudar a definir protocolos de tratamento.